A luta das mulheres

(Joseph de Maistre, 1753-1821)

Por que a humanidade, em vez de entrar em um estado verdadeiramente humano, está se afundando em uma nova espécie de barbárie, perguntavam Theodor Adorno e Max Horkheimer, em 1947!

Temos visto, passivamente, o retorno do autoritarismo, revestido de preceitos conservadores, que julgávamos superados. Árduas conquistas do passado são derrubadas simplesmente porque alguns grupos se julgam restauradores de verdades.

Os espaços político e social das mulheres são alguns desses territórios, novamente tomados por supostos defensores da Tradição; aqui, autointitulam-se “homens de bem”.

No século XIX, Joseph de Maistre, uma influência ainda hoje importante para parte do pensamento conservador e principalmente reacionário, tinha uma visão deplorável do papel da mulher:

“… basta enfraquecer um pouquinho, num país cristão, a influência da lei divina, deixando subsistir a liberdade que dela advém para as mulheres, e logo vocês verão essa nobre e tocante liberdade degenerar numa vergonhosa licenciosidade.

Elas se transformarão nos instrumentos funestos de uma corrupção universal que atingirá em pouco tempo as partes vitais do Estado.

Ele cairá na podridão e sua decrepitude gangrenosa fará ao mesmo tempo vergonha e horror.”

Leia mais sobre De Maistre no post abaixo:

Muitos homens sonham com a volta do predomínio masculino sem contestação. Gostariam que às mulheres lhe coubessem apenas a maternidade e a obediência, como na Atenas de Platão.

“A cultura grega tinha o silêncio como uma das principais qualidades da mulher, ao lado da beleza, da castidade, do pudor e da submissão.” (Ana Lúcia Curado)

Quanto tempo durou essa marginalização da mulher! Que esses recuos momentâneos, espero, gerem impulso para a consagração definitiva da sua importância na vida social.

Que, como no “Ensaio sobre a cegueira”, de Saramago, após o mergulho na escuridão, as pessoas possam emergir com a visão recuperada.

Ou, como na lenda de Hans Christian Andersen, “A nova roupa do imperador”, que se evidencie que esses refluxos não se tratam de uma cegueira biológica, mas da incapacidade de ver e do medo de se enfrentar a realidade.

Parece haver um desejo latente por parte de grupos em aderir a uma cegueira social voluntária, da razão, do discernimento; a procura por guias é sintomático. A estes cabem definir o que pode ou não ser visto e aceito como real.

Lembram da lenda de Lady Godiva? Pelo menos conhecem a marca de chocolate.

Lady Godiva reclamava dos altos impostos que seu marido, o conde Leofric, cobrava de seus súditos. Isto, na região de Coventry, Inglaterra, em 1057. Ele não cedia.

Para mostrar seu poder – e humilhá-la – propôs abolir os impostos excessivos desde que ela desfilasse nua sobre um cavalo pela cidade. Ela topou.

Ciumento, o conde ordenou que todas as portas e janelas deveriam estar trancadas. Ninguém deveria ver sua nudez.

Um alfaiate curioso, fez um buraco na sua janela para vê-la. Foi punido com a cegueira.

Ficou cego, mas fugiu da “cegueira” geral que a todos foi imposta.

Ou seja, sempre haverá os que se negam a seguir o determinado pelo poder, os voyeurs da liberdade.

Publicado por Dorgival Soares

Administrador de empresas, especializado em reestruturação e recuperação de negócios. Minha formação é centrada em finanças, mas atuo com foco nas pessoas.

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