O homem merece a liberdade?

(Uma prisão Panóptica abandonada em Cuba)

O Utilitarismo é irmão siamês do Liberalismo.

Jeremy Bentham (1748-1832), pai do Utilitarismo, um defensor das ideias de Adam Smith (1723-1790), argumentava que cada pessoa era o melhor juiz de seus próprios lucros, que não deveria haver empecilhos criados pelos governos, inclusive com relação a se emprestar dinheiro a juros (usura), tema em voga na época.

O cidadão, achava, deveria obedecer ao Estado na medida em que a obediência contribui mais para a felicidade geral do que a desobediência. Se isso pegasse …

O mercado deveria ser regido exclusivamente pela lei da oferta e procura. Nada mais controverso e, muito pertinente às condições econômicas vigentes.

Enveredou, também, por reformas da educação e num novo esquema para o sistema penitenciário, chegando a projetar o “Panopticon“, o Panóptico, um edifício em forma de anel com uma torre de vigia no centro.

A ideia por trás do Panóptico é que o principal meio de controle é a vigilância. Segundo ele, dessa forma seria possível “tornar honestos os embusteiros, mantendo-se os canalhas sob vigilância constante”. Isso tem tudo a ver com o debate atual sobre as redes sociais e o trabalho presencial ou remoto.

Sua fórmula do Utilitarismo pode ser resumida a “propiciar a maior alegria (felicidade) possível para o maior número”. Seria um cálculo hedonístico, ou seja, a soma algébrica dos prazeres e dores dos indivíduos.

Apesar de ser considerado o “pai” do Utilitarismo, repetia Cesare Beccaria (1738-1794), que já sustentava o princípio da maior felicidade possível para o maior número possível de pessoas como o objetivo último de toda legislação.

Bentham, ao mesmo tempo em que defendia coisas como a introdução do sufrágio universal e, que as leis fossem redigidas de forma que pudessem ser compreendidas por qualquer pessoa, também pregava o aprisionamento de mendigos e a tortura! Paradoxal, acho.

Teve como seguidores o filósofo James Mill e seu filho, John Stuart Mill.

John Stuart Mill era mais radical que Bentham: para ele “o indivíduo, para que possa traçar um ‘plano de vida’ digno de sua natureza, deve se desfazer da carapaça da opinião herdada. Ele deve aprender a sujeitar todas as suas crenças antigas a um escrutínio racional. Deve ousar ser ‘excêntrico’, ‘diferente’, ‘original'”, observa Roger Kimball.

Segundo Mill, a liberdade pode ser entendida da seguinte forma: que todos tenham permissão para se satisfazer como quiserem, desde que não prejudiquem o próximo. Condenava, consequentemente, qualquer sistema moral.

Um crítico, Leslie Stephen, o rebatia dizendo que “o hábito de olhar para certas condutas com aversão é a essência da moralidade”. Mas, esta aversão pode ser inculcada!

Gertrude Himmelfarb, parodiando Lord Acton (“o poder absoluto corrompe absolutamente”), dizia que “a liberdade absoluta também pode corromper absolutamente”. Tema complexo.

Stephen termina por apelar: considera que falta virilidade em Mill, que ele apresenta uma “suavidade feminina”, o que levaria à “feminilização da sociedade”. Mill teria “uma avaliação demasiado favorável da natureza humana”.

“Mill parece crer que se os homens estão todos livres de coibições e se são postos, tanto quanto possível, no mesmo pé de igualdade, naturalmente tratarão uns aos outros como irmãos e trabalharão juntos harmoniosamente para alcançar seu próprio bem comum!” (Leslie Stephen)

Rousseau, no final da vida confessou: “Acho que conheço o homem, mas, quanto aos homens, desconheço-os”.

Publicado por Dorgival Soares

Administrador de empresas, especializado em reestruturação e recuperação de negócios. Minha formação é centrada em finanças, mas atuo com foco nas pessoas.

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