A Morte de Matusalém

(Isaac Bashevis Singer, 1902-1991)

Isaac Bashevis Singer era um judeu-polonês, e viveu muito tempo nos Estados Unidos.

“De todos os problemas de que eu sofria na juventude, a timidez era talvez o mais grave e o mais engraçado. Eu me sentia envergonhado e não sabia realmente de que. Era minha roupa? Era meu cabelo ruivo? Ou era o fato de não conseguir ganhar um tostão, de não ter uma profissão, uma educação formal, de não saber falar polonês como se deve?”

Como a vida é um “construir-se”, e se revela a partir de mil formas e possibilidades, tornou-se um escritor consagrado, e recebeu o Nobel de Literatura de 1978.

Na introdução ao conto abaixo, afirmou que “a própria criação do homem foi uma decepção para Deus. Ele teve de destruir sua obra-prima, que havia se corrompido. O Mal se tornara a arte maior do homem, principal realização.”

Matusalém, com temor da morte, visita os infernos e tem um vislumbre sobre o futuro da humanidade.

Como o texto é longo, poucos o lerão integralmente. Uma pena!

A MORTE DE MATUSALÉM

“Era um dia de verão abafado. Numa tenda de vime, Matusalém descansava – um homem velho, com mais de novecentos anos.

Estava descalço, nu, com uma faixa de folhas de figueira cobrindo o púbis. Achava-se entre deitado e sentado numa cama feita de peles de veado, cabra e vaca.

De tempos em tempos estendia uma mão encarquilhada e bebia de uma jarra d’água. Suas faces eram chupadas, e sua boca, desdentada.

Na juventude, Matusalém se distinguira pela força física. Mas o sujeito depois que passa dos novecentos anos não é mais o mesmo.

Tornara-se macilento, e sua pele, crestada pelo sol, assumira um tom marrom-escuro. Perdera todos os cabelos, inclusive a barba e os pelos do peito. Em seu corpo proliferavam furúnculos, nódulos, tumores. Seus ossos eram salientes; seu nariz, recurvado; e suas costelas lembravam as cintas de um barril.

Matusalém não estava acordado mas tampouco dormia. Parecia entorpecido pelo calor e murmurava consigo mesmo os murmúrios da velhice extrema.

Porém continuava lúcido. Sabia muito bem quem era: Matusalém, filho de Enoque, o qual jamais morrera, tendo sido arrebatado por Deus.

Sua mulher e seus muitos filhos tinham visto quando Enoque ia atravessando a plantação rumo ao celeiro e de repente sumira.

Alguns diziam que a Terra havia aberto sua bocarra e o engolira, porém outros sustentavam que a mão de Deus descera dos céus e o levara para as altitudes celestiais, pois Enoque era um homem justo que caminhava com o Todo-Poderoso.

Matusalém tinha a esperança de partir da mesma maneira. Deus estenderia Sua mão divina e o levaria para junto de Si, de seu pai, Enoque, e dos anjos, serafins, aralins, querubins, animais sagrados e demais hostes celestes.

Mas quando? Já contava novecentos e sessenta e nove anos. Até onde sabia, era o homem mais velho da Terra.

Ouvira dizer que Naamá, uma mulher que ele amara no passado, talvez fosse ainda mais velha.

Supunha-se que fosse filha de Lameque e Zilá, a irmã de Tubalcaim, que fabricava todos os utensílios de cobre e ferro.

Matusalém conhecera Naamá centenas de anos antes. Desde então, desejava-a ardentemente e sonhava deitar-se em seu colo.

Corriam rumores de que, na realidade, Naamá não era filha de Lameque, e sim de um dos anjos caídos que, tendo visto como eram belas as filhas dos homens, coabitavam com as que mais lhes apeteciam.

Naamá depois desaparecera, e dizia-se que havia se juntado a um bando de demônios-fêmeas, as filhas de Lilith, com a qual Adão se deitara cento e cinquenta anos antes de Deus fazê-lo cair num sono profundo e moldar Eva a partir de sua costela.

Enquanto cochilava, vencido pelo calor, à beira da morte, Matusalém não parava de pensar em Naamá.

Sonhava com ela à noite e por vezes durante o dia também. Já não fazia muita distinção entre sonho e vigília. Abria os olhos e tinha visões. Ouvia as vozes de irmãos e irmãs, filhos e filhas já falecidos.

Matusalém tinha um filho ao qual dera o nome de Lameque, em memória ao pai de Naamá. Esse filho tinha um filho chamado Noé.

Dos filhos de Matusalém que ainda estavam vivos, alguns vagavam pelos campos com rebanhos de ovelhas, jumentos, mulas, cavalos e camelos.

Suas filhas tinham se casado com homens de cujos nomes ele não se lembrava mais. Acumulava uma infinidade de netos e bisnetos com os quais nunca se encontrara e de que nunca tivera notícia.

O mundo era vasto e pouco habitado. Muitos homens viviam da caça. Perseguiam os animais, matavam-nos, assavam-nos e comiam sua carne, arrancavam suas peles e faziam vestes e calçados com elas.

Aprendiam a atirar com arco e flecha e, como Tubalcaim, sabiam forjar utensílios de cobre e ferro, chegando mesmo a fabricar objetos de ouro e prata. Usavam redes para apanhar peixes nos rios.

Armas eram fabricadas, travavam-se guerras, e os homens matavam seus próprios irmãos, como Caim matara Abel.

Soube-se que Iahweh estava arrependido de ter criado o homem. Via como era grande a sua maldade e como nos desígnios concebidos por sua mente não havia senão perversidade.

Bom, ruminava Matusalém, no fundo já não pertenço ao mundo dos vivos. Logo descerei ao Xeol, à Dumá, a terra das sombras. Moscas e mosquitos voavam em redor dele, porém Matusalém não tinha forças para espantá-los.

Uma mocinha entrou na tenda, descalça e seminua. Matusalém não sabia se era uma de suas netas ou uma de suas escravas. Ainda que fosse uma escrava, provinha de sua semente, pois todas as escravas haviam se tornado suas concubinas.

Matusalém quis perguntar o nome da menina, porém tinha a garganta cheia de muco e não conseguia falar. A garota viera trazer-lhe tâmaras em compota numa tigela de madeira. Ele segurou o recipiente com uma mão trêmula e bebeu do sumo adocicado.

Súbito lhe ocorreu que seu filho Lameque havia gerado um filho com o nome de Noé. “Onde estão? Por que me deixaram sozinho? Quem me enterrará quando eu der meu último suspiro?”

Matusalém ergueu os olhos e viu Naamá à sua frente, nua como no dia em que viera ao mundo. O sol poente projetava uma luz avermelhada em suas faces, em seus seios, em seu ventre. Seus cabelos pretos tocavam-lhe o quadril.

Matusalém a abraçou e eles se beijaram. Disse ela: “Matusalém, aqui estou”.

“Desejei-a todos esses séculos”, respondeu ele.

“E eu a você”.

“Por onde andava?”, indagou ele.

“Com meu anjo Ashiel, numa caverna profunda, no coração do deserto. Comia do alimento dos céus e bebia do vinho dos deuses. Demônios me serviam e cantavam canções para mim. Dançavam diante de mim, trançavam meus cabelos e a barba de Ashiel. Traziam-me romãs, pães de amêndoa, tâmaras e mel. Tocavam liras e tambores para me agradar. Deitavam-se comigo e seu sêmen enchia meu útero.”

As palavras de Naamá incendiaram o desejo de Matusalém, e ele se tornou jovem e forte de novo. Inquiriu: “Ashiel não tinha ciúmes?”.

“Não, meu senhor. Os anjos caídos são todos meus escravos e criados. Lavam meus pés e bebem a água.”

“Por que veio até mim após centenas de anos?”, indagou Matusalém.

“Para levá-lo comigo à cidade que nosso avô Caim erigiu e à qual deu o nome de seu filho”, respondeu Naamá.

E prosseguiu: “Esse filho foi o pai de Irade e o avô de Meujael, Metusael e Lameque, que matou um homem e uma criança e desposou Ada e minha mãe, Zilá.

Sou filha de um assassino, neta de um assassino e vivo numa cidade construída por um assassino. Para lá o levarei, meu adorado.

Ashiel havia caído lá e trouxe consigo muitos anjos. Você deve saber que Iahweh é perverso, um Deus ciumento e vingativo. Submete os que O servem a tentações constantes. Quanto mais forte a devoção que dedicam a Ele, mais Ele os castiga.

Na cidade de Caim, servimos a Satã e a sua esposa, Lilith, com a qual o pai de todos nós copulou. Satã e seu irmão Asmodeu são deuses apaixonados, e assim é a que lhes serve de esposa, a deusa Lilith.

Têm seus prazeres e permitem que os outros também os tenham. Não são fiéis e não exigem fidelidade de seus parceiros.

A ira de Iahweh se acende por qualquer motivo. Todos os prazeres Lhe são interditos, mesmo a simples ideia deles. Vive com receio de que a descendência de Adão se aposse de Seus domínios.

Trouxeram-me a notícia de que Ele pretende provocar um dilúvio sobre a Terra para afogar o homem e os animais. Abençoado seja meu avô Caim, em cuja cidade as águas não chegarão”.

“Como sabe de tudo isso?”, indagou Matusalém.

“Na cidade de Caim temos muitos espiões”, foi a resposta de Naamá.

“Temo Iahweh e Sua vingança”, disse Matusalém. “Pequei um bocado nesses meus novecentos e sessenta e nove anos. Desejava-a, Naamá, dia e noite.”

“Na cidade de Caim, a luxúria não é pecado”, disse Naamá. “Pelo contrário: é a mais elevada virtude.”

Matusalém queria dizer outra coisa, porém Naamá instou: “Venha, voe comigo para o lugar em que minha cama está feita …”.

Naamá abriu os braços e Matusalém alçou voo com ela.

Voavam em sincronia, como dois pássaros. Os sinais da idade e das doenças o haviam abandonado. Em seu enlevo, Matusalém tinha vontade de cantar e assoviar.

Ouvira dizer que Iahweh realizava milagres apenas para quem O servia de todo o coração e alma. Porém agora um milagre estava acontecendo com ele, o mais velho dos pecadores.

Matusalém sabia que a Terra era imensa e fértil, mas agora podia vê-la do alto – montanhas, vales, rios, lagos, campos, florestas, pomares e plantas de todos os tipos.

Enquanto ele comia, dormia e sonhava, os filhos de Adão haviam construído cidades, vilas, estradas, pontes, casas, torres, barcos a vela.

Naamá voou com ele até a cidade de Caim, onde proliferavam cavaleiros e pedestres, assim como vendas e oficinas de todos os tipos.

Matusalém viu indivíduos de várias raças e cores: brancos, negros e pardos. Tinham construído templos para servir a seus deuses. Sinos dobravam. Sacerdotes sacrificavam animais e aspergiam sangue nos cantos dos altares; queimavam gordura e incenso. Soldados com espadas à cintura e lanças às costas agrilhoavam cativos, infligiam-lhes suplícios e os eliminavam. Chaminés expeliam colunas de fumaça. Algumas mulheres usavam adereços de ouro e prata e ostentavam símbolos fálicos entre os seios.

Naamá mostrava-lhe tudo. Dentro de jaulas, mulheres nuas chamavam pastores e condutores de caravanas que iam e vinham dos desertos. Matusalém aspirava odores que lhe eram desconhecidos. A noite caíra e fogos ardiam na escuridão. Reunidas em grupos, pessoas riam, gritavam, dançavam, davam cambalhotas. Os loucos falavam alto, com vozes selvagens e esganiçadas. No deserto atrás da cidade, a lua cheia brilhava.

Matusalém viu ao luar um portão que se abria para o ventre da Terra. Um sem-fim de degraus conduzia a um abismo. Será o Xeol ou a Dumá?, indagou a si mesmo.

Embora estivesse preparado para enfrentar a morte, sentia-se a um só tempo amedrontado e curioso.

Sua mãe lhe havia falado sobre os poderes da noite. Esses poderes guerreavam com Iahweh, rebelavam-se contra Ele e Sua Providência.

Chamavam de morte a vida e de vida a morte. Para eles o certo era errado, e o errado, certo.

Zilá, a mãe de Naamá, contara à filha que os poderes do mal eram tão velhos quanto tohu e vohu e as trevas que precederam a Criação.
Essas forças chamavam a si mesmas de nativas e tinham Iahweh na conta de um intruso que violara as fronteiras de Satã, rompera todas as suas barreiras e profanara o mundo com luz e vida.

Como era estranho que, ao término de seus dias, quando seu corpo estava prestes a transformar-se em pó e sua alma se preparava para retornar às origens, como era estranho que justo agora Matusalém caísse nas mãos daqueles adversários de Deus.

Naamá o levou para sua alcova e, conquanto estivesse escuro, Matusalém pôde ver a cama e um homem enorme deitado nela.

Era Ashiel, um anjo caído, um dos filhos de Anaque, os gigantes de renome.

Naamá apresentou Matusalém a ele dizendo: “Eis aqui um dos meus amantes mais antigos”, e o outro indagou: “Matusalém? Ela fala de você o tempo inteiro. É a você que ela quer, não a mim. Mesmo eu sendo um gigante e você sendo pequeno como um gafanhoto”.

“Ele é pequeno, mas é um homem de verdade”, disse Naamá. “Enquanto que o seu sêmen é como água e espuma.”

“Agora”, disse Ashiel, “vou ter com os sábios de nossa assembleia.”

Ashiel partiu e Matusalém abraçou Naamá e a possuiu.

Naamá revelou para ele segredos do Céu e da Terra.

“Seu pai, Enoque”, disse ela, “tornou-se chefe dos anjos de Iahweh, o anjo Metatron. Na realidade, não passa de um criado Dele. Seu filho Lameque, jaz entre as sombras da Dumá.”

Naamá revelou-lhe que a mãe dela, Zilá, era uma meretriz e se deitava com todos os amigos do marido, bem como com seus inimigos. Gerou a ela, Naamá, com um dos filhos de Adá, Jubal, o antepassado de todos os que tocavam lira e flauta.

Continuou falando a Matusalém: “Saiba que o mundo de Iahweh não passa de um manicômio. Ele errou ao criar o homem e agora ordenou ao seu neto Noé, que construa uma arca a fim de salvar a ele, à família dele e a todos os animais do dilúvio.

Esteja certo, porém, de que esse dilúvio jamais atingirá a Terra. Aqui no inferno se reúne uma assembleia de sábios provenientes de todas as partes do mundo. Vêm de Kush e da Índia, de Sodoma e de Nínive, de Shinar e Gomorra.

Iahweh está velho e cansado. Pensa que é o único Deus e tem ciúmes dos outros deuses, receando a todo instante que Seus próprios anjos se voltem contra Ele e assumam o comando do universo.

Nós, os demônios desta geração, somos jovens e numerosos. Iahweh ameaça abrir as janelas do Céu e causar o dilúvio. Mas nós temos eruditos que descobriram como fechá-las. Ao longo de todos esses anos, Matusalém, enquanto você vivia com suas fiéis esposas e concubinas, lavrava o campo com o suor da sua testa e cuidava dos seus rebanhos de ovelhas, muitos sábios surgiram.

São capazes de raciocínios mais sutis; sabem calcular quanta areia há no mar, quantos olhos tem uma mosca; conseguem medir o fedor de um gambá e o veneno de uma cobra.

Alguns aprenderam a domesticar crocodilos e aranhas, outros podem tornar jovem o velho e sábios os tolos e são capazes de inverter os sexos. Alcançam as profundezas mais recônditas da perversão. Fique conosco, Matusalém, e será duas vezes mais sagaz e dez vezes mais viril”.

Naamá beijou Matusalém, acariciou-o. Depois disse: “Iahweh teve apenas uma esposa, a Shekiná, e em virtude da impotência Dele e da frigidez dela há incontáveis anos os dois estão separados. Iahweh proibiu todas as coisas que dão prazer aos homens e às mulheres, como o furto, o homicídio, o adultério. Até a dulcíssima cobiça pela mulher do outro é crime para Ele.

Mas nós fizemos da sedução e da tentação a mais elevada arte. Venha comigo, Matusalém, e o levarei à assembleia dos sábios aqui reunidos e você testemunhará suas realizações e ouvirá o que eles pretendem fazer no alegre porvir.

Meu amante Ashiel lá se encontra, e também muitos anjos caídos que se cansaram das filhas de Adão e agora se deitam uns com os outros. Se ficar comigo, darei a você todas as minhas criadas e vários diabretes para nosso deleite comum”.

Matusalém e Naamá se levantaram e ela o conduziu por um labirinto de corredores. Chegaram a um templo, onde cada erudito falava de sua terra e de seu povo.

Um sábio de Sodoma dizia à assembleia que as crianças sodomitas estavam sendo adestradas na arte do morticínio, bem como na do incêndio criminoso, do desfalque, da mentira, do assalto, da perfídia, da agressão aos velhos e da violação dos jovens.

Um glutão de Nínive explicava como se deve fazer para comer a carne de animais ainda vivos e sugar-lhes o sangue ainda correndo nas veias. Prêmios eram concedidos aos melhores ladrões, assaltantes, falsários, mentirosos, prostitutas, torturadores , assim com a filhos e filhas que desonravam seus pais e a viúvas que se notabilizavam por envenenar seus maridos. Tinham sido criados cursos especiais de blasfêmia, sacrilégio e perjúrio. O formidável Ninrode em pessoa ensinava maus-tratos a animais.

Um velho demônio, de nome Shavriri, proferia um discurso em que dizia: “Iahweh é um Deus do passado, mas nós somos o futuro. Iahweh está morrendo – é possível até que já esteja morto -, porém a serpente vive e dá à luz incontáveis novas serpentes ao copular com nossa rainha Lilith e as damas de sua corte. Os anjos do Céu foram todos cegados pela maldição da luz, mas nós traremos de volta a escuridão primeva, que é a substância de toda matéria.

A assembleia era brindada com uma música de sonoridade áspera, e o canto era tão estridente que perfurava os ouvidos de Matusalém. Ele já não conseguia fazer distinção entre as risadas e os gritos, entre os vivas proferidos pelos demônios-fêmeas e os gritos alucinados dos duendes.

“Estou velho demais para toda essa folia”, disse Matusalém, sem saber se falava consigo mesmo ou com Naamá.

Caiu de joelhos e suplicou a ela que o levasse de volta para sua tenda, para sua cama, para a bem-aventurança da velhice e do repouso.

Pela primeira vez em quase mil anos o receio do túmulo abandonou Matusalém. Sentia-se pronto para abraçar o anjo da morte, com sua espada aguçada e seus incontáveis olhos.

Na manhã seguinte, quando a criada foi levar a tigela com o suco de tâmaras para Matusalém, encontrou-o morto.

Correu a notícia de que o homem mais velho da terra tornara ao pó.

Noé logo soube da morte do avô, porém não podia abandonar a mulher e os três filhos, Sem, Cam e Jafé, nem a arca que o Todo-Poderoso ordenara que ele construísse.

Deus estava prestes a fazer cair o dilúvio. As janelas do Céu começaram a se abrir e ninguém as poderia fechar.

Os senhores de Sodoma e Shinar, de Nínive a Admá seriam em breve levados pela enchente.

Em alguma parte das profundezas da Dumá e do Xeol, escondia-se um bando de demônios, Naamá entre eles.

Matusalém conhecia bastante bem o passado e tivera um vislumbre do futuro.

Deus assumira um risco temerário ao criar o homem e conceder-lhe o domínio sobre as outras criaturas na Terra, contudo estava em vias de sinalizar, por meio do arco-íris entre as nuvens, a promessa de nunca mais provocar um dilúvio, fazendo perecer toda a carne.

Ficou evidente para Ele que todo castigo era vão, pois desde o princípio carne e corrupção são uma só coisa e continuarão a ser, para todo o sempre, o refugo da criação, o oposto mesmo da sabedoria , da misericórdia e do esplendor de Deus.

Aos filhos de Adão, Deus conferira amor-próprio em abundância, além do precário dom da razão e das ilusões do espaço e de tempo, porém não os investira de nenhum senso de propósito ou justiça.

O homem encontraria uma maneira de rastejar de cá para lá sobre a superfície da Terra até que a aliança que Deus fizera com ele chegasse ao fim e seu nome fosse apagado de uma vez por todas do livro da vida.

Publicado por Dorgival Soares

Administrador de empresas, especializado em reestruturação e recuperação de negócios. Minha formação é centrada em finanças, mas atuo com foco nas pessoas.

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