
Gibran Khalil Gibran foi poeta, pintor e escritor. Em suas veias corria o sangue de uma multiplicidade de culturas como a fenícia, aramaica, assíria, persa, grega, árabe e outras.
Libanês, emigrou para os EUA, quando tinha doze anos de idade, levado (com os irmãos) por uma mãe corajosa – uma costureira -, que buscava a realização da potência de seu povo, reprimida pelo Império Otomano.
A tuberculose o levou cedo, aos 48 anos. Ele desejava passar a velhice num monastério do século 7, na sua cidade natal, próxima a Beirute, mas não deu tempo. Seu corpo foi enterrado lá.
“Gibran, o americano árabe-libanês de Bsharre, inundou as livrarias, as almas e o espírito de milhões de leitores, influenciou gerações com textos poéticos que são a base da psicanálise de Freud.
Quem leu com atenção ‘Os filhos’, ‘O Matrimônio’, ‘O Trabalho’, e outros de seus textos de ‘O Profeta‘, certamente terá captado o profundo teor psicanalítico de sua obra.” (Claude Fahd Hajjar)
Tornou-se um ensaísta, prosador e poeta; um discípulo e mestre da palavra.
“O que é a palavra? É um vento que passa. Quem pode encadeá-la? A escritura.” (Al Qalqashandi, 1355-1418)
OS FILHOS
“E uma mulher que carregava seu filho nos braços disse: ‘Fala-nos dos Filhos’.
E ele disse:
‘Vossos filhos não são vossos filhos.
São os filhos e as filhas da ânsia da Vida por si mesma.
Vêm através de vós mas não de vós.
E embora vivam convosco, não vos pertencem.
Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,
Porque eles têm seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;
Pois suas almas moram na mansão do amanhã, que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.
Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós;
Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.
Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.
O Arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda Sua força para que Suas flechas se projetem, rápidas e para longe.
Que vosso encurvamento na mão do Arqueiro seja vossa alegria:
Pois assim como Ele ama a flecha que voa, também ama o arco que permanece estável.'” (Gibran)
“Disseram-vos que a vida é escuridão; e no vosso cansaço, repetis o que os cansados vos disseram.
E eu vos digo que a vida é realmente escuridão, exceto quando há um impulso.
E todo impulso é cego, exceto quando há saber.
E todo saber é vão, exceto quando há trabalho.
E todo trabalho é vazio, exceto quando há amor.
E quando trabalhais com amor, vós vos unis a vós próprios e uns aos outros, e a Deus.
E que é trabalhar com amor?
É tecer o tecido com fios desfiados de vosso próprio coração, como se vosso bem-amado tivesse que usar esse tecido.
É construir uma casa com afeição, como se vosso bem-amado tivesse que habitar essa casa.
É semear as sementes com ternura e recolher a colheita com alegria, como se vosso bem-amado fosse comer-lhe os frutos.
É por em todas as coisas que fazeis um sopro de vossa alma.
E saber que todos os abençoados mortos vos rodeiam e vos observam.” (trecho de O Trabalho, de Gibran)
Há algo de inspiração sufista nesse texto, conforme o princípio sufi de que devemos ir do exterior (as trevas) ao interior, a luz.
Nascido opaco, o homem tem de trabalhar sobre si mesmo para começar a brilhar até tornar-se puro como a superfície do espelho. Só então ele há de refletir a divindade, dizia Mansur Al Hallaj (857-922):
“Eu sou aquele que amo e aquele que eu amo sou eu
Não somos duas almas em um corpo
Ver a mim é ver a ele e vê-lo é nos ver a ambos.”
(Mansur Al Hallaj)
Um comentário em ““A Terra é minha pátria, a humanidade é minha família” (Gibran)”