
Provocado pelo amigo Fábio Adiron, divulgo aos estrangeiros a macabra capacidade de se criar histórias fantásticas no Recife.
Nós, recifenses, nos divertimos com os superlativos que criamos para a cidade, dentre esses, o de “cidade mais assombrada do Brasil”.
Hoje, sexta-feira 13, é um dia apropriado para falarmos sobre isso.
“Quem sai à noite pelas ruas do Recife corre o risco de ser convidado a visitar o cemitério acompanhado de uma mulher que vira caveira.
Ou pode se deparar com um morto-vivo com a boca cheia de dentes de ouro.
Ou pior: levar um chute de uma perna cabeluda que pula sozinha, sem estar ligada a nenhum corpo.
Roteiro de filme de horror? Não! Esse é apenas um breve resumo de algumas das lendas mais assustadoras da capital pernambucana, considerada por muitos a “cidade mais assombrada do Brasil” (Roberto Beltrão)
O livro retratado acima é um desses clássicos do terror urbano recifense.
Não se sabe se o fato é verídico ou invencionice de seu autor, Joaquim Maria Carneiro Vilela (1846-1913).
Carneiro Vilela, um dos fundadores da Academia Pernambucana de Letras, escreveu seus 14 romances no formato de folhetim, nos jornais locais.
“A emparedada da Rua Nova” trata do assassinato da jovem burguesa Clotilde, solteira e grávida, e de seu amante (e, também da sua mãe), o sedutor Leandro Dantas.
Um drama, que retrata os costumes do Recife do século 19, eivados de preconceitos de classe, raça e condição social, com suas manifestações típicas: inveja, ambição, ciúme, poder, mentiras, intrigas … Tudo muito atual.
O pai da Clotilde, um abastado comerciante, Jaime Favais, ao saber que era enganado pela mulher e enlouquecido pela gravidez da filha solteira, lava com sangue e desvario a sua “honra”.
Após o assassinato de Leandro, o pai tenta obrigar Clotilde a se casar com seu primo, a quem detestava, embora “nada mais lhe restasse, além do desespero de ver-se infamada e indigna, desonrada e perdida”. “(…) ela entrava na ordem infinita dessas mulheres a quem se respeita porque são mulheres, mas que ninguém solicita porque já não donzelas.”
“Triste e medonha alternativa! A moça, porém, não hesitou um só momento: preferiu o sofrimento à submissão.” E a morte, horripilante: emparedada ainda viva!