
“As pessoas mais bonitas que conhecemos são aquelas que conheceram a derrota, o sofrimento reconhecido, a luta, a perda, e encontraram seu caminho para fora das profundezas.
Essas pessoas têm uma apreciação, uma sensibilidade e uma compreensão da vida que as enche de compaixão, gentileza e uma profunda preocupação amorosa.
Pessoas bonitas não acontecem apenas.” (Elisabeth Kubler-Ross)

A médica Elisabeth Kübler-Ross tentou mudar a maneira como o mundo vê a morte e o morrer. Através de seus livros e muitos anos de trabalho com crianças, pacientes de AIDS e idosos portadores de doenças terminais, trouxe consolo e compreensão para muitas pessoas que lidavam com a própria morte ou com a de entes queridos.
Algo semelhante é desempenhado por aqui pela médica Ana Claudia Quintana Arantes.
Ao escrever o livro “Sobre a morte e o morrer”, prefaciou:
“Pedimos que o paciente fosse nosso professor, de modo que pudéssemos aprender mais sobre os estágios finais da vida com suas ansiedades, temores e esperanças.
Transcrevo simplesmente as experiências de meus pacientes, que me comunicaram suas agonias, expectativas e frustrações.
É de esperar que outros se encorajem a não se afastarem dos doentes ‘condenados’, mas a se aproximarem mais deles para melhor ajudá-los em seus últimos momentos.”
“Não me deixe rezar por proteção contra os perigos, mas pelo destemor em enfrentá-los.
Não me deixe implorar pelo alívio da dor, mas pela coragem de vencê-la.
Não me deixe procurar aliados na batalha da vida, mas a minha própria força.
Não me deixe suplicar com temor aflito para ser salvo, mas esperar paciência para merecer a liberdade.
Não me permita ser covarde, sentindo sua clemência apenas no meu êxito, mas me deixe sentir a força de sua mão quando eu cair.”
(Rabindranath Tagore)
Atualmente, tem aumentado absurdamente o número de pacientes com distúrbios psicossomáticos, com problemas de comportamento e ajustamento. Há mais casos de problemas emocionais nas salas de espera dos consultórios médicos do que jamais houve.
Enquanto isso, também cresce o número de pacientes mais velhos que procuram não somente viver com suas limitações e habilidades físicas diminuídas mas também enfrentar a solidão e o isolamento com os anseios e angústias que deles advêm. A maioria não consultou psiquiatras, só os amigos e parentes. Essa rede social tende a desaparecer.
A morte não é algo trivial: em nosso inconsciente, a morte nunca é possível quando se trata de nós mesmos. Não nascemos preparados para o fim, ao contrário: esperneamos e combatemos até o último suspiro – é a lei da sobrevivência e da evolução.
“Quanto mais avançamos na ciência, mais parece que tememos e negamos a realidade da morte. Como é possível?
Há muitas razões para se fugir de encarar a morte calmamente. Uma das mais importantes é que, hoje em dia, morrer é triste demais sob vários aspectos, sobretudo é muito solitário, muito mecânico e desumano. Às vezes, é até mesmo difícil determinar tecnicamente a hora exata em que se deu a morte. Morrer se torna um ato solitário e impessoal porque o paciente não raro é removido de seu ambiente familiar e levado às pressas para uma sala de emergência.” (Kübler-Ross)
Há um esforço de se terceirizar o evento da morte, a partir dos avanços tecnológicos capazes de prolongar o desfecho. Técnicas de suportes artificiais de vida, distanásia, levam a existência muitas vezes a perder a dignidade e o sentido.
Às vezes, médicos conscientes permitem a ortotanásia, e param de intervir no prolongamento da vida do paciente além do seu período natural, exceto se expressamente requerido pelo doente.
Afinal, a vida é um direito, não um dever.
Um comentário em “A dor educa”