
Como destruir um planeta sem fazer muito esforço. Este é um capítulo de um livro de Noam Chomsky.
Um historiador do futuro – se houver – perceberá que neste nosso mundo, existem os que estão tentando com afinco fazer algo em relação às ameaças que nos cercam e outros que estão agindo para intensificá-las. O curioso é que as pessoas que estão tentando mitigar ou derrotar essas ameaças pertencem às sociedades menos desenvolvidas, principalmente os povos indígenas, comenta Chomsky.
Os governantes – independentemente do discurso – são mantidos para desviar o foco do povo de quem realmente manda: os detentores do poder econômico.
Ao mundo corporativo interessa que os funcionários públicos sejam desprezados, rotulados como burocratas que roubam o dinheiro dos cidadãos na forma de impostos. Isso ajuda a extirpar da mente das pessoas a ideia subversiva de que o governo pode se tornar um instrumento de efetivação da vontade popular.
Quanto maior a polarização política, maior a alienação dos cidadãos com relação a seus próprios interesses.
Claro que há excessos, disfuncionalidades, ineficiências, corrupção; tudo na medida que justifique a culpa por nossas desgraças exclusivamente aos governantes. Naturalmente, eles são os atores principais, mas há os que ficam nos bastidores, dirigindo-os.
Adam Smith já chamava a atenção para os industriais e comerciantes ingleses, que batizou-os como “os mestres da humanidade”. A máxima deles seria “tudo para nós e nada para os outros”.
O egoísmo das elites e o distanciamento crítico da grande maioria – por razões diversas: ignorância, anticientificismo, manipulação ideológica etc. – vão paulatinamente deteriorando a possibilidade de convivência adequada, ambientalmente e socialmente.
“A desenfreada ocupação humana do planeta vem causando um aniquilamento massivo de espécies, a sexta grande extinção desde o início da vida.
Essa extinção abrange várias famílias de plantas e animais, incluindo mamíferos, aves, répteis, anfíbios, peixes e invertebrados, e acontece ao menos cem vezes mais rápido do que o esperado pelas taxas naturais de extinção.
Ao mesmo tempo, a crescente globalização das culturas humanas majoritárias acelera o processo de extinção de minoritárias.
Até 2100, estima-se que metade das mais de 7 mil línguas humanas hoje existentes estará extinta.
Isso equivale a dizer que as perdas de biodiversidade se somarão a uma colossal perda de saberes.” (Sidarta Ribeiro)
Talvez não dê para determos o avanço da “máquina do fim do mundo”, como se refere Chomsky ao aquecimento global, risco de guerra nuclear e desinformação.
O ar fica irrespirável, os oceanos tornam-se ácidos, o solo se exaure, as florestas tornam-se savanas, as savanas viram desertos, os alimentos vêm carregados de defensivos e antibióticos, a coesão social se esfarela, a insegurança (alimentar, social, de renda) explode em síndromes e transtornos …
Não vejo como convencer os mais fortes de que ajudar os mais fracos também os beneficia.
A conta virá, talvez não para mim ou você, mas para nossa espécie.
Segundo Nelson Rodrigues, “subdesenvolvimento não se improvisa, é obra de séculos”. O mesmo vale para a burrice. Aliás, ele já ia ao ponto: “Invejo a burrice, porque é eterna.”