
O partido Nacional Socialista Alemão, além do estilo militarista prussiano, tinha uma dimensão messiânica, baseada na raça – sustentada, supostamente, por crenças esotéricas.
Pregava uma tentativa mágica para alterar o mundo. Além da supremacia racial, o objetivo era a criação de uma nova raça de super-homens. Esse novo ser teria um poder ilimitado e venceria a morte; seria um ser divino.
A vida podia ser entendida como nas gravuras dos cárceres de Piranesi, que representaria o que acorrenta os seres humanos: o tormento de sabermos que somos mortais, a imensidão do espaço que lembra nossa pequenez, o homem como Sísifo – condenado a perder a batalha pela vida. Nessa visão egoísta, o homem deveria ser o centro de tudo; “certos” homens, digo.
Antes dos super-homens, era preciso livrar-se dos subumanos (untermensch).
A ciência não era seu norte, mas outros “saberes” como a geomancia, simbolismo, folclore, a magia pagã da Germânia pré-cristã, o culto solar de Ahura Mazda, prospecções subterrâneas, magnetismo, cosmologias alternativas, teorias raciais etc.
A Alemanha tinha uma longa tradição em sociedades secretas. Houve, até, uma espécie de Tribunal Secreto (Vehm), cujos associados eram chamados de “iluminados”.
O Vehm foi criado por Carlos Magno, em 772 d.C., após a conquista da Saxônia, quando os pagãos sofreram um reinado de terror.
Frederico o Grande (1712-1786), admirado por Hitler como o maior alemão de todos os tempos, era um ávido patrocinador e estudioso do ocultismo.
Com a vitória prussiana contra os franceses, em 1871, nascia o Segundo Reich alemão (o Primeiro teria sido durante o antigo Sacro Império Romano-Germânico). Apesar da unificação dos outrora estados independentes da Alemanha, não havia coesão nacional entre eles, além da língua. Foi necessário o resgate do que caracterizaria a “civilização teutônica”. O esforço, bem sucedido, procurava mostrar a superioridade da cultura alemã, que superaria às das civilizações clássicas grega e romana.
Com o desastre, inesperado para a maioria dos alemães, da I Guerra Mundial, ruíram as velhas lealdades – com Deus, o Kaiser, a pátria e com o “invencível” exército.
Esse clima desestabilizou a Alemanha e foi terreno para todas as aventuras extremistas, anarquistas, comunistas e nacionalistas de direita.
Os nacionalistas restauraram os métodos do Vehm, e o terror se espalhou. E, o pensamento místico e ocultista rebrotou. As principais lideranças nazistas tinham essa origem.
Em 1918, um nobre alemão, Rudolf von Sebottendorff, fundou a sociedade ocultista Thule, baseada na Ordem Germânica, que aglutinava várias associações nacionalistas.
O nome Thule era uma referência ao mítico reino, uma espécie de Atlântida nórdica.
Dessa sociedade nasceria o Partido dos Trabalhadores Alemães, origem do partido nazista.
Karl Haushoffer, um membro da Thule, desenvolveu a ideia de “sangue e solo”, segundo a qual a supremacia de uma raça depende da conquista do seu “espaço vital” (Lebensraum): para uma nação o espaço não seria apenas um veículo de poder, mas o próprio poder.
Hitler, um desses fanáticos ressentidos da época, pregava “… precisamos de orgulho, vontade, desafio, ódio, ódio e mais ódio.”
Hoje vemos esse lema se espraiando e conquistando adeptos. Sabemos como termina.