
Há vários Projetos de Lei em proposição no Congresso tentando restaurar o ensino da Educação Moral e Cívica e Organização Social e Política do Brasil no currículo escolar.
Alguns procuram reforçar a importância da unidade familiar na constituição e solidez de uma sociedade saudável. Outros, com viés do “bem”, defendem o tripé “Pátria, Família e Deus”.
Recentemente, a Comissão de Educação do Senado aprovou o PL 3.465/19, que torna obrigatório temas de cidadania e combate à corrupção.
O fato é que os pais – salvo exceções – não se preocupam em transmitir valores essenciais para cimentar a sociedade: solidariedade, apoio ao diverso, valor da conquista pessoal, respeito ao próximo, estímulo às vocações naturais, saber ouvir etc.
Os de classe média e os pobres lutam por ascensão ou sobrevivência, respectivamente. A família se desintegra e delega a educação dos filhos à escola e às redes sociais. Inclusive os princípios edificantes.
Prevalece a balança da compensação – pela falta de tempo, atenção e afeto -, os que podem tentam se desculpar consigo mesmos, abarrotando as crianças e os longevos adolescentes com quinquilharias, jogos e presentes.
A fase mais importante na formação da personalidade (até os sete anos) tende a ser marcada pela ausência efetiva dos pais. Os pais terminam por perder a admiração e, às vezes, o respeito dos filhos. Essa criança, que não respeita os pais, respeitará a quem? Falo isso com toda a culpa do mundo – sei agora o quanto minhas prioridades afetaram meus filhos.
“Pátria, família e Deus” é o conjunto de valores a ser alçado? Não necessariamente. Pátria decorre do senso de cidadania. Família, sim, precisa ser valorizada – mas o conceito predominante nos últimos séculos (família nuclear) está em transformação; talvez evolua para família “tribal” ou comunitária (não estou advogando isso). Deus, bom, isso é escolha individual em termos de crença ou não-crença.
Essa geração, sem valores morais enraizados, serão bons cidadãos? Saberão apostar em políticos que representem suas ideias? Essas ideias serão aquelas que interessam à sociedade como um todo ou a segmentos sociais?
Pessoas que se dizem de direita aprenderam a hostilizar Paulo Freire, sem que – na sua maioria – o tenham lido. Por que Freire é tão odiado? Claro que ele era de esquerda, mas o que pregava era a autonomia decisória sobre nossa participação política. Educar é, inevitavelmente, uma ação política, mesmo que essa palavra nunca seja pronunciada. A omissão é um ato político, que não pode ser inocente.
Para ele, a luta em prol da educação é veementemente política e, não, estritamente pedagógica; a vinculação entre alfabetização e política é concretizada na prática
educativa; ao se afirmar que a educação é política, é óbvio que ela pode estar a favor (ou não) dos oprimidos.
As desigualdades (de oportunidades, renda e riqueza) só se acentuam. Ela é histórica, estrutural e subliminarmente propagada como natural. Não é natural; é reflexo do poder. Poder é política. E, na suposta democracia em que ainda vivemos, podemos influenciar a política – embora os poderosos a dominem.
Bertolt Brecht (1898-1956) sabia do risco da omissão daqueles entediados e já sem esperança na nossa capacidade de transformação.
O analfabeto político
“O pior analfabeto é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, não participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio depende das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia política.
Não sabe o imbecil, que da sua ignorância nasce a prostituta, o menor abandonado, o assaltante e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo.”