“Os deuses, quando amam, prendem o frêmito do cosmos”

(Vielimir Khliébnikov, 1885-1922)

Volto a mostrar mais um pouco da poesia de Khliébnikov. Abaixo há um link para uma publicação anterior.

Após uma permanência no Irã, Khliébnikov regressou a Moscou, em 1921.

A atmosfera da Nova Política Económica, de Lenin, que encontrou, com a sua essência mercantil, parecia profundamente alheia à sua natureza . Este não era o mundo do futuro com o qual ele havia sonhado. O futurista Khliébnikov, que dividiu a humanidade em “inventores” e “adquiridores”, considerava que o estado do futuro, que se criaria “em nome da realização em vida de altos princípios ‘contra o dinheiro'”, exclui a civilização do mercantilismo mundial – “A liberdade vem nua”.

Khliébnikov viveu os seus últimos anos na miséria, gravemente doente e passando fome.

Sua vida miserável lembra a de outro poeta (contemporâneo) que também morreu – em Paris – na absoluta pobreza (são tantos!): o peruano César Vallejo, hoje consagrado no seu país.

“Um homem passa com um pão no ombro

Vou escrever, depois, sobre meu duplo?

Outro senta, se coça, tira um piolho do sovaco, mata-o.

Como é que eu vou falar de psicanálise?”

“Parado numa pedra,

desempregado,

imundo, horripilante

às margens do Sena, ele vai e vem.

Do rio brota então a consciência,

com pecíolo e arranhões de árvore ávida;

do rio a cidade sobe e desce, feita de lobos abraçados. (…)” (Vallejo)

A morte sempre instigou Khliébnikov. Escreveu o drama O erro da morte (1915), recuperando a tradição medieval da personalização da morte. Nessa peça, a morte morre.

A morte era um tema comum entre os poetas e escritores russos.

Maiakóvski disse que estava “inteiramente convencido de que algum dia não existiria mais a morte e que os mortos seriam, de fato, ressurretos.”

Tolstói buscara “uma religião prática que não prometa a felicidade eterna, mas sim, que dê aos homens felicidade terrena”

“A noite é sombria,

e o álamo, frio,

o mar ressoante,

e tu, bem distante!”

“Bem pouco me basta!

A crosta de pão

a gota de leite.

E mais este céu,

com as suas nuvens!”

“Os homens, quando amam,

dão longos olhares

e longos suspiros.

As feras, quando amam,

turvam os olhos,

dando mordidas de espuma.

Os Sóis, quando amam,

vestem a noite com tecidos de terra,

e dançam majestosos para a amada.

Os deuses, quando amam,

prendem o frêmito do cosmos,

como Puchkin – a chama de amor da criada de Volkónski.”

“Noite cheia de constelações.

De que destino e informações,

brilhas, ó livro, intensamente?

Será por jogo ou livremente?

Ler a sorte, quanto me basta,

à meia noite, em céu tão vasto?”

Publicado por Dorgival Soares

Administrador de empresas, especializado em reestruturação e recuperação de negócios. Minha formação é centrada em finanças, mas atuo com foco nas pessoas.

Um comentário em ““Os deuses, quando amam, prendem o frêmito do cosmos”

  1. Prefiro começar meus arrazoados com a biografia de Khliébnikov, “o poeta-sacerdote, matemático, biólogo, linguista, poeta … a referência do ‘futurismo’. Avisou, em 1921, a data da sua morte: recordando Púchkin, o poeta disse que “as pessoas do meu ofício morrem frequentemente aos 37 anos”. Assim como, Maiakovski também morreria aos 37 anos, em 1930. “Vielimir Khliébnikov viveu os seus últimos anos na miséria, ” como vários filósofos, poesia, o sacerdócio o levaria a miséria, somente a matemática lhe desse algum dinheiro mas parece não foi o caso. Se não atentarmos para outras atividades somos fadados a morrer cedo e na miséria. Pobre Khliébnikov, o poeta-sacerdote, matemático, biólogo, linguista, poeta. Sua poesia é quase um lamento. Assim é a alma do poeta, sempre incompreendida, ama até a exaustão aquilo que se dedica. Na maioria das vezes desprezado apenas reconhecido pós-morte. Em nossos dias a poesia parece tomar um rumo, mesmo assim falar em poesia e falar em algo “d’mode ” ou “fora de moda” . Até quando a poesia e os poetas serão desvalorizados? Não creio que essa geração “y” no futuro saberá escrever, valorizar ou entrar na alma do poeta e interpretar um poemas siquer. “Geração neném “, não sabe ler, não sabe escrever e não sabe interpretar um poema. Revendo os poemas acima é de fato gritos de lamento de fome e de amor. Os poetas não são para esse mundo hostil, razão porque morriam cedo. Deixo aqui gritos da alma desta poetisa mesmo sem ser ouvida “As dores da alma” . Mais um lamento como tantos outros que nunca foi ouvida e felizmente já passei de 37 anos a idade da morte dos poetas.

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