
Schopenhauer já foi considerado o “mais racional dos filósofos do Irracional”, por Thomas Mann.
Na sua época, a razão passava a conduzir os homens. O homem se descobria criador. A verdade se confundia com realização. O futuro passava a representar acumulações. Surgia a religião secular do Progresso e do Desenvolvimento, que hoje nos encurrala.
Para Schopenhauer, a ânsia por realização não o animava, mas sim a “arte do abandono”, a inibição do agir. Um estraga-prazeres!
Perto da morte, ele considerava que “Uma filosofia cujas páginas não abranjam os extremos das lágrimas, choro e ranger de dentes e o fragor pavoroso do homicídio social recíproco e universal não é absolutamente uma filosofia”. Pouca auspiciosa, não é?
Deixo maiores comentários para o estudioso Fábio Adiron.
Reproduzo, a seguir, um pequeno trecho do seu “Sobre como lidar consigo mesmo”:
“Assim como o trabalhador que ajuda a construir um edifício não conhece o plano do todo ou nem sempre o tem presente, é desse modo que o ser humano, ao desenrolar cada dia e cada hora de sua vida, lida com o todo e o caráter de sua trajetória de vida.
Quanto mais esse caráter for digno, significativo, metódico e individual, tanto mais será necessário e benéfico que, de vez em quando, ele lance um olhar sobre o seu esboço reduzido, ou seja, sobre o plano da sua vida.
É claro que disso também faz parte que ele tenha dado o passo inicial no ‘conhece-te a ti mesmo’.
Portanto, é preciso que ele saiba o que verdadeiramente , fundamentalmente e sobretudo quer; o que é essencial para a sua felicidade e, em seguida, o que ocupa o segundo e o terceiro lugares.
E, ainda, é preciso que reconheça qual é, em geral, a sua vocação, o seu papel e a sua relação com o mundo.
Se isso for significativo e grandioso, a visão do plano de sua vida, em escala reduzida, haverá de, mais do que qualquer outra coisa, fortalecê-lo, erguê-lo, encorajá-lo à ação e desviá-lo de caminhos equivocados.”
Tudo muito simples, prático, sem mistificações. Talvez por isso ele esteja sempre em voga.