
“A Ucrânia deveria adotar uma postura comparável à da Finlândia, nação que não deixa dúvidas sobre sua violenta independência e coopera com o Ocidente na maioria dos casos, mas evita cuidadosamente a hostilidade institucional em relação à Rússia”. Essa foi uma das recomendações feitas por Henry Kissinger em 2014, durante as manifestações populares na Ucrânia que culminaram com a queda do presidente pró-russo, Viktor Yanukovych.
Ele pregava princípios que não trariam satisfação absoluta, mas uma insatisfação equilibrada, como poder aderir à União Européia, mas não à OTAN.
Prudência diante de agressão é inação. O poeta Píndaro (século V a.C.) alertava que “Quem quer vencer um obstáculo deve armar-se da força do leão e da prudência da serpente”.
Daí, a primeira-ministra finlandesa, Sanna Marin, e a Suécia, começam a debater seus ingressos na OTAN (já são membros da UE).
Arrogância não é uma boa conselheira. Está na Arte da Guerra, de Sun Tzu: “Se o seu oponente é de temperamento colérico, procure irritá-lo. Finja ser fraco, que ele vai se mostrar arrogante, e vulnerável.”
Também disse: “No meio do caos há sempre uma oportunidade” e, “Quando cercar o inimigo, deixe uma saída para ele, caso contrário, ele lutará até a morte”.
Em novembro de 1939, após o início da partilha da Polônia, conforme o Pacto Molotov- Ribbentrop, assinado por alemães e soviéticos que pregava a não-agressão mútua, o Exército Vermelho atacou a Finlândia.
Ora, a União Soviética “só” queria um pedaço do país, para instalar bases militares! Os países bálticos haviam concordado; os finlandeses, não!
Lavrenti Beria, o carniceiro de Stálin (apesar de ser suspeito de tê-lo envenenado) ordenou “acabar com os elementos antissoviéticos e antissocialistas” nesses países.
Desproporcional. A Finlândia, todos esperavam, deveria sucumbir em pouco tempo: 465 mil soviéticos contra 130 mil finlandeses; mil aviões soviéticos entraram em ação imediatamente, para 150 aviões antigos da Finlândia. Artilharia, principalmente tanques, sem comparação: mais de 2 mil contra 64!
Os comandantes soviéticos estavam tão certos da rápida vitória que boa parte de suas tropas vestia uniformes de verão, apesar início do inverno.
O primeiro ataque aéreo, à maneira do que Hitler fizera em Varsóvia, causou 61 mortes. Uma menina de 12 anos teve ambas as pernas esmagadas e reduzidas a cotos sangrentos. Sua foto foi amplamente divulgada pelos soviéticos para baixar o moral finlandês.
Mas, as fotos só convenceram os finlandeses da necessidade de resistir.
Esse mesmo erro seria repetido por Hitler no bombardeio “irresistível” sobre a Inglaterra e, depois, pelo próprio Churchill, no revide à Alemanha, principalmente em Dresden (onde, numa noite, foram mortos mais homens, mulheres e crianças que em Londres durante toda a guerra).
Todos acreditavam no que dissera Gustave Le Bon, de que nosso estado de civilização não passa de um verniz: “Diante de crises, o homem desce vários degraus da escada da civilização”.
Não é assim. Não há evidências de abatimento do moral coletivo, nem de devastação mental. Em geral, um ataque não faz aflorar o pior dos indivíduos, e sim o melhor deles.
Os finlandeses resistiram brava e criativamente: os tanques do Exército Vermelho não conseguiam avançar frente às minas e aos coquetéis Molotov – que inventaram -; chegaram a usar ramos de árvores para arrancar os trilhos dos tanques …
Bom, a Finlândia terminou por assinar um tratado de paz (rendição) em 12 de março de 1940, apesar de ter angariado a “solidariedade” da Grã-Bretanha e da França (além do espanto de Hitler e estupefação de Stálin).
Estima-se que morreram 95 mil soldados finlandeses, enquanto os soviéticos perderam 71 mil mais 40 mil, que ficaram “desaparecidos”.
“Mais uma vitória como esta, e estou perdido”, disse Pirro (318 a.C – 272 a.C.) após vencer a Batalha de Ásculo, contra as legiões romanas.