Amigos

Solidão - um "monstro" para aprender a lidar com a idade! - Portal do  Envelhecimento

Amigos, tenho poucos. O bastante. Não confundo civilidade e humanidade com amizade. Conheço muitas pessoas – das quais logo esqueço os nomes -, mas amigos … sempre poucos e menos.

Amizade requer uma carga de amor e desprendimento que, se excessiva, nos apaga.

Os colegas no trabalho, os conhecidos por razões várias, os que eventualmente ou descuidadamente se dão ao trabalho de ler o que escrevo, os que ainda virei a conhecer e a cultivar relacionamentos … não são necessariamente amigos. São encontros fortuitos que são adubados com atenção, respeito e gentileza – que tornam a vida suportável e agradável.

Esses ‘conhecidos’ percebem que sou amigo da vida, portanto, da sinceridade árida que a natureza nos mostra.

Mas, amigos, tenho poucos – repito.

Por esses eu morreria, se isso importar. Pois, repetindo Rubem Alves, as coisas que nos dão razão para morrer são as mesmas coisas que nos dão razões para viver. Entre essas, o amor – descomprometido, voluntário, sem necessária reciprocidade. Paixão é outra coisa, que não cabe aqui.

Amizade não requer convívio, presença – não é indispensável. A ligação é espiritual – inefável.

A amizade é o encontro de solidões.

Solidão, sim, aquilo que nos fortalece ao permitir que encontremos a nós mesmos.

Hoje, solidão é estigmatizada como uma falta de “amigos”, quando, na verdade, pode ser o fortalecimento de nosso principal amigo, nós mesmos. Os outros vêm depois.

Quer ser gente? Cultive a solidão. A solidão traz o espelho da alma. Numa boa.

Solidão voluntária não é depressão, é erguimento. Não é um símbolo de vazio, mas de preenchimento.

“Gosto da minha solidão, mas você se surpreenderia com o tamanho dela”, dizia Schopenhauer.

“Solidão é o ar que se respira quando se entra nas paisagens da alma” – novamente, Rubem Alves. As paisagens que vemos, assim é nossa alma. Porque vemos aquilo que somos.

Uma foto, por exemplo, de uma paisagem, gera sentimentos distintos em quem a vê, porque temos “almas” distintas.

“O que sinto, a verdadeira substância com que o sinto, é absolutamente incomunicável; e quanto mais profundamente o sinto, mais incomunicável é.” (Bernardo Soares)

Porém, é fato, a solidão é para poucos. Poucos a desejam; a maioria a teme.

Os poetas, assim como as crianças e os artistas são, em geral – nas suas solidões – aqueles que se encontram em harmonia com o indizível mistério da vida, dizia Goethe.

O afã contemporâneo por atenção e likes é um sintoma da perda de nossa autenticidade e de nós próprios, buscando-se sentido para o existir nos outros, na quantidade de conexões (amigos) e de supostos seguidores. Tanto que o “cancelamento” é mais que a morte do virtual.

Daí, também, o campo propício para realidades alternativas como a que o mercado instrumentalizará no metaverso, por exemplo.

Creio muito na capacidade humana de dar a volta por cima; por enquanto, só a vejo rastejar e a entrega da alma ao diabo das redes, com a ilusão de amizades.

Publicado por Dorgival Soares

Administrador de empresas, especializado em reestruturação e recuperação de negócios. Minha formação é centrada em finanças, mas atuo com foco nas pessoas.

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