Para onde vai o ser humano?

(Konrad Lorenz, 1903-1989)

Temos uma grande capacidade de autoencantamento, autoilusão; achamo-nos superiores a todos os demais seres e, a aura tecnológica nos galgou a patamares pouco imaginados.

Por outro lado, o ser humano é – em linhas gerais – cada vez mais oco. Perdemos densidade moral e espiritual à medida em que nos sentimos senhores do mundo. Tudo ilusão. Não somos senhores de nada e não passamos de meros consumidores de artefatos. Sentimo-nos, de fato, perdidos no turbilhão dos acontecimentos e das novidades perfeitamente dispensáveis.

À falta de uma identidade genuína, procuramos nos agrupar em tribos de assemelhados, que nos aceitem e com as quais achamos que temos afinidades (raciais, culturais, sociais, religiosas, ideológicas, futebolísticas etc.). O social se esfarela, a cidadania perde o sentido comunitário, a autodeterminação é relegada. Temos que seguir uma corrente, um movimento, um brado, um déspota ocasional.

Crescem o dissenso, a segregação, a desarmonia, o preconceito, a discriminação, o descompromisso, o alheamento, a alienação, a indiferença, o ódio.

Eis o progresso material desalinhado com o amadurecimento espiritual. Espiritual, aqui, não quer dizer religioso.

Enquanto não encontramos esse nicho e não nos reconfortamos lá, alimentamos a desesperança, a ansiedade, o medo infundado, a angústia, o desespero. Males atuais.

O diferente passa a ser visto com desconfiança até virar inimigo.

O Estado-nação começa a involuir e a ser reconstituído por novos estados feudais, não mais centrados em território, mas encastelados em suas ideias típicas, liderados por oportunistas iluminados.

A visão fragmentária do conhecimento e o foco no imediatismo, na sobrevivência, nos tira a capa do que nos resta de humanidade. À ausência de uma força centrípeta, prevalecem as centrífugas. Aliás, é de fuga que se trata.

A expectativa por um ser melhor se esvanece. Podemos até viver mais – muito às custas de esforços paliativos – mas com um crescente sentimento de “despersonalização”.

Com o Projeto Genoma Humano (PGH), deflagrado há 30 anos, imaginaram que o “humano” seria conhecido no seu âmago e, melhorado. De fato, chegou-se à identificação de quase 2 mil genes de doenças e algumas centenas de produtos biotecnológicos estariam em ensaios clínicos.

Nessas veredas analíticas, percebeu-se, em seguida, a necessidade de se mapear as proteínas e seus papéis metabólicos (Proteoma e Metaboloma).

Ora, são montanhas de dados que, mesmo catalogados, não garantem suas funcionalidades. São meros guias biológicos. A vida requer mais do que um manual de uso. A vida é complexa, se reinventa, evolui (ou involui).

Agora, olham para a epigenética, que permite compreender as mudanças na expressão gênica. O ambiente, lato sensu, teima em existir e em dar o ritmo.

Konrad Lorenz (1903-1989) dizia que é estupidez querer usar a ciência para melhorar um individuo, e que “(…) é ainda mais estúpido pensar que a nossa ciência é suficiente para ‘aperfeiçoar’ o homem de forma arbitrária graças a intervenções no genoma humano (…)”.

Publicado por Dorgival Soares

Administrador de empresas, especializado em reestruturação e recuperação de negócios. Minha formação é centrada em finanças, mas atuo com foco nas pessoas.

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