
Maurício de Nassau era um nobre, sobrinho-neto do príncipe Guilherme I de Orange, governador provincial da Holanda. Governou o Brasil holandês de 1637 a 1644. Tinha 33 anos quando chegou.
Foi um grande administrador e procurava ser ‘justo’: proibiu os juros extorsivos ao setor agrícola e instaurou um clima de tolerância religiosa, por exemplo.
A Companhia das Índias, sua empregadora, entretanto, o via como um ‘gastador’ e pouco rígido na cobrança dos financiamentos aos senhores de engenhos.
Era, também, um humanista, amigo de filósofos e artistas.
No início de 1641, os portugueses declararam independência dos espanhóis.
O Brasil fora invadido pelos flamengos, em 1630, porque estava sob o controle da sua grande inimiga, a Espanha. Reatada a paz com os velhos aliados lusos, cessou a captura dos navios que partiam carregados de açúcar do Rio e da Bahia para a Europa — até aí, a maior fonte de renda da Companhia. A empresa, então, começou a operar no vermelho.
Maurício logo foi demitido. Mas, os apelos de tantos retardaram sua saída até 1644.

Preocupado com seu legado, deixou, ao sucessor, algumas recomendações para seu governo.
Eis algumas:
- Mantenham respeito e honra, conquanto este requisito seja necessário em relação a toda sorte de gente, pois para aquele que governa a autoridade é uma das principais razões de Estado e meio para a conservação da República. (…)
- Por maior que seja a estreiteza, não falte o necessário para o pagamento aos oficiais, porquanto nada há que mais depressa os faça por de lado e esquecer o respeito do que a necessidade e a privação.
- A impunidade dos soldados, bem como de toda sorte de indivíduos os transvia e os corrompe facilmente. (…)
- Provejam sempre os lugares vagos com os mais dignos. A preterição de pessoas que merecem é cousa que produz perniciosos efeitos secretamente. (…)
- Procurem angariar e manter, por meio de favores e de dinheiro, alguns portugueses dispostos e dedicados para que possam, em segredo, informar os preparativos do inimigo.
- Esses portugueses devem ser dos mais importantes e honrados da terra, e lhes será recomendado que exteriormente se mostrem como se fossem dos mais desafetos aos holandeses para não caírem em suspeição.
- Os mais próprios seriam os padres, pois são eles que de tudo têm melhor conhecimento. (…)
- Maior cautela deve ser tomada nas confissões por tortura, pois, por temor da dor, fazem-se declarações que nunca foram pensadas nem sonhadas. (…)
- Não convém desgostar o governador da Bahia por cousas de pouca monta, pois a nação portuguesa tem muito em atenção correspondências e cortesias, embora vãs e de pouca importância.
- Os portugueses locais serão submissos se forem tratados com cortesia e benevolência. É uma gente que faz mais caso da cortesia e do bom tratamento do que de bens. (…)
- Devem V.Sa. abster-se de lançar novos impostos, pois os tributos geram indisposições no povo.
- O povo é um rebanho de carneiros que se tosquiam, mas quando a tosquia vai até à carne, produz infalivelmente dor e, como esses carneiros raciocinam, por isso mesmo se convertem muitas vezes em terríveis alimárias. O país não deve ser esgotado de dinheiro corrente porque este é o músculo e o nervo, sem os quais este corpo nenhuma força pode ter.
- Em cousas da Igreja, a tolerância ou condescendência é mais necessária ao Brasil do que entre qualquer outro povo a que se tenha concedido a liberdade de religião.
Logo após sua saída começaria a Insurreição Pernambucana, que culminaria com a expulsão dos holandeses, em 1654.
