
Tomás Ryan, professor de Bioquímica e Imunologia, propõe que esquecer memórias ou coisas que aprendemos pode ser uma característica funcional do cérebro e, na verdade, uma forma adicional de aprendizado.
“Criamos inúmeras memórias enquanto vivemos nossas vidas, mas muitas delas esquecemos. Por que?
Contrariando a suposição geral de que as memórias simplesmente decaem com o tempo, ‘esquecer’ pode não ser uma coisa ruim – pode representar uma forma de aprendizado.”
A nova teoria sugere que as mudanças em nossa capacidade de acessar memórias específicas são baseadas em feedback ambiental e previsibilidade. Em vez de ser um bug, o esquecimento pode ser uma característica funcional do cérebro, permitindo que ele interaja dinamicamente com o ambiente.
“Em um mundo em mudança, esquecer algumas memórias pode ser benéfico: pode levar a um comportamento mais flexível e a uma melhor tomada de decisão. Se as memórias foram adquiridas em circunstâncias que não são totalmente relevantes para o ambiente atual, esquecê-las pode ser uma mudança positiva que melhora nosso bem-estar.” (Thomas Deane)
Sherlock Holmes, criatura de Sir Arthur Conan Doyle, sabia o quanto um homem observador podia aprender através de um exame atento, preciso e sistemático do seu objeto de estudo – no caso, crimes de difícil solução.
Usava um processo de dedução reversa (dos efeitos para a causa), na verdade, um processo de indução: partia de um fato e tentava reconstruir os passos lógicos que culminaram nele.
Holmes tinha uma metáfora para explicar seu foco de interesse: “Acho que o cérebro do homem é originalmente como um pequeno sótão vazio, que temos de abastecer com a mobília que escolhemos. (…) Para cada novo conhecimento é preciso esquecer alguma coisa que se conhecia antes. É da maior importância, portanto, não ter fatos inúteis empurrando para fora os úteis.”
Isso confundia seu amigo John Watson, que não entendia como alguém com aquela inteligência não tivesse feito algum curso que lhe propiciasse um título científico ou algo no mundo acadêmico.
Watson, ao perguntar a Holmes por que ele desconhecia o sistema solar, ouviu: “Que me importa? Você diz que giramos ao redor do Sol. Se girássemos ao redor da Lua, não faria a menor diferença para mim ou para o meu trabalho.”
Holmes não adquiria nenhum conhecimento que não fosse relacionado com seus objetivos. Um apóstolo da especialização. Com ele – e tantos – funciona, se isso lhe basta e lhe encanta.
A Complexidade nos ensina, porém, que nada está desconectado e que o encadeamento dos fatos nem sempre é linear. Tudo é sistêmico – não necessariamente “sistematizado”, metódico, organizado.
O pensamento de Holmes era mecanicista, pois acreditava que “toda a vida é uma grande cadeia, cuja natureza conhecemos sempre que nos mostram um único de seus elos”.
Sim, é possível fazer-se inferências sobre fatos consumados a partir dos elos dos acontecimentos, mas não se pode garantir a repetição dos eventos ao se rever o mesmo elo. O que foi não tem que se repetir. Essa é uma das belezas e garantias da vida.
Ele tinha um conhecimento minucioso e enciclopédico de crimes – esse era seu métier – e nele se apoiava pois “há um forte parentesco entre os crimes e, se alguém conhece todos os detalhes de mil casos na ponta dos dedos, é estranho que não consiga desvendar o milésimo primeiro”. Um precursor de Data Science e Big Data, com os problemas que a IA hoje enfrenta: os padrões não se repetem, obrigatoriamente.
Para ele, o gênio é a capacidade infinita de se esforçar – 100% de suor e nada de brilhantismo, intuição. Teria, ufa!, escrito um estudo especial sobre cinzas de charuto!
Por outro lado, contrariando parte do que disse sobre seu uso da intuição, defendia que “as nossas ideias devem ser tão vastas quanto a natureza, se quisermos interpretar a natureza”. Para isso, buscava a imaginação – embora específica, especializada: “Onde não há imaginação, não há horror”.
Há muito a se comentar sobre o Sherlock Holmes, talvez em próximos textos.
Ótimo texto!
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Obrigado, Alexandre.
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Dorgival, muito bom o texto. Obrigado!
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