Cada uma das espécies biológicas é produto de infindas bifurcações na árvore genealógica dos seres, que remonta a um tronco familiar comum.
A ideia da “árvore da vida” surgiu a partir de rabiscos deixados por Darwin.
Do alto de nosso progresso autodestrutivo, esquecemos que os verdadeiros protagonistas da evolução são micro-organismos, em especial bactérias e Archaeas (arqueobactérias, embora não sejam bactérias).
Entre essas espécies primordiais está o vírus – um padrão para a maioria dos políticos -, um ser vivo e não-vivo, uma vez que embora possua informação genética, é incapaz de copiar a si mesmo sem a ajuda de células.
A vida teria sido uma emergência de fatos evolutivos, defendem os biólogos. Uns, como Darwin, a via como resultado da competição entre os próprios seres; outros, como Lynn Margulis, dizia que a cooperação era a força evolutiva.
O respeitado Edward Wilson, que nos deixou ontem, aos 92 anos, refutava a história como o desdobramento de uma criação sobrenatural.
Chegamos ao que somos por evolução, naturalmente, não por criação. Uma questão pertinente é “por que somos o que somos?”. Poderíamos ter seguido vários outros percursos, outros itinerários evolutivos, daí a humanidade, achava Wilson, não alcançou e tampouco alcançará a compreensão integral do sentido da existência da nossa espécie.
“Defendo que a humanidade surgiu absolutamente por conta própria, por meio de uma série cumulativa de acontecimentos ao longo da evolução. Não estamos predestinados a alcançar nenhuma meta, tampouco temos que responder a outro poder que não o nosso.
É apenas a sabedoria baseada no autoconhecimento, não na devoção, que há de nos salvar.
Não haverá redenção nem segunda chance outorgada pelos céus.
Temos apenas este planeta para habitar e este sentido a descortinar.” (Edward Wilson)
Fomos moldados até aqui por um escultor cego, a seleção natural.
Isso não nos impede de termos sensibilidade poética, artística, científica e, até espiritual. A integração com o todo, de onde viemos, e o respeito às demais manifestações dessa “natureza”, nos eleva – ao nos levar aos primórdios. Somos desdobramentos, rotas, fulgor do que deu certo.
A vida está em nós e ao nosso redor; antes, hoje e – por muito tempo ainda – à frente. Um dia, claro, a vida também se extinguirá, não só a humana (talvez desapareceremos antes).
Bertrand Russell já tinha um prognóstico de um universo que caminha para a morte.
“No que tange às evidências científicas, o universo se arrastou, ao longo de etapas lentas, até um resultado um tanto lamentável nesta Terra, e vai se arrastar, em fases ainda mais deploráveis, até chegar a uma condição de morte universal.
Se isto puder ser encarado como evidência do desígnio divino, cabe-me dizer apenas que esse desígnio não exerce sobre mim o menor encanto.
Não vejo, portanto, razão alguma para acreditar em qualquer espécie de Deus.” (Russell, 1948)
Apesar, ou talvez por isso, a ignorância – na sua forma truculenta de abestalhamento ideológico – haverá de contestar os caminhos mais humanitários para a nossa espécie, até nos vencer, don’t looking up!