A educação não é tudo; sem ela, porém, não se funda um futuro

Fernando de Azevedo | Academia Brasileira de Letras
(Fernando de Azevedo, 1894-1974)

A educação não garante, por si, um futuro promissor, equitativo e aspiracional. Entretanto, uma comunidade sem educação condena-se à dependência, escraviza-se aos detentores do saber, internos e externos.

“Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”, resumia Paulo Freire.

Educação, frisemos, não é mera reprodução de um conhecimento padronizado, bacharelice ou erudição; é criação do saber, cultural e tecnológico.

“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”, novamente, Paulo Freire.

Precisamos de cidadãos ativos, engajados com o desenho democrático do futuro e participantes do momento, como diria Emmanuel Mounier (1905-1950). É necessário, dizia Mounier, conservar a força das visões utópicas e a capacidade de recusar a injustiça do mundo. Não podemos, como cidadãos, só reagir quando algo nos atinge. Tudo o que humilha, restringe ou destitui direitos e aspirações dos outros, reduz nossa “humanidade”. Somos parte.

A lição sobre cidadania é o mais importante tópico da educação: pensar de forma republicana, na defesa da liberdade e na criação de possibilidades para todos. Cada um de nós representa apenas um nó do tecido social.

Émile Durkheim não desassociava Pedagogia da Sociologia. A educação é algo eminentemente social. Cada sociedade alimenta um certo ideal humano; e é este ideal que é o polo da educação. A educação busca criar homens e mulheres conformes aos ideais que determinada civilização sonha.

Esse é o ponto: qual o ideal que desejamos? O Brasil já se imaginou no futuro?

Temos e tivemos tantos pedagogos e entusiastas da educação (Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo, Darcy Ribeiro, Cristovam Buarque, Maria Mascellani, Florestan Fernandes, Miguel Arroyo, Jaqueline Moll, Dermeval Saviani … e, Paulo Freire) mas, o tema nunca foi, de fato, uma prioridade nacional.

Por que não valorizamos a educação? Porque, antes dela, precisamos saber de nossas atitudes e visão de mundo. Somos acomodados e esperamos que nosso futuro nos chegue, milagrosamente. Desculpem-me pela generalização.

Empenhamo-nos pelo nosso bem-estar e o dos próximos; a sorte dos demais, da nação, é preocupação de outros (dos políticos). Se esses empobrecem ou se embrutecem, não é meu problema, pensamos. No projeto de nossa casa já está o muro.

Vejamos a atuação de Fernando de Azevedo: ao lado de Anísio Teixeira , participou de importantes eventos e momentos das lutas por reformas educacionais no país.

Segundo Maria Luiza Penna, ele “quis construir um sistema educacional duradouro, forte o bastante para alavancar o país. Não o conseguiu. Ao constatar nossa incapacidade de realizar uma obra fundadora, cabe a pergunta: por que tal fracasso em uma gradação variada de projetos e governos diferentes? A médio e longo prazo, eles nos teriam tirado da miséria e mediocridade educacional. O Brasil parece ser, por natureza, descontínuo.”

Hoje em dia, com o bombardeio de informações (muitas falsas ou opinativas), tendemos a crer que a educação possa ser dispensável; mas é o contrário, desde que a vejamos com olhos adequados:

“… é verdade que informação não é conhecimento. Conhecimento é a organização das informações. Então, estamos imersos em informações e como elas se sucedem dia a dia, de certa forma, não temos como ter consciência disso. De outra parte, os conhecimentos estão dispersos. É preciso uni-los, mas falta esse pensamento complexo.

Depois, não obedecer ao dogma da avaliação. Avaliamos e avaliamos, quando, na realidade, a avaliação também é um jeito de calcular que ignora a complexidade das realidades humanas.

O objetivo do ensino deve ser ensinar a viver.

Viver não é só se adaptar ao mundo moderno. Viver quer dizer como, efetivamente, não somente tratar as grandes questões de que falamos, mas como viver na nossa civilização, como viver na sociedade de consumo.

Produzimos coisas descartáveis em vez de objetos reparáveis, que possam ser consertados. Então há toda uma lógica e é preciso dar, no ensino, os meios àqueles que vão se tornar adultos, de poder escolher alimentos, consumo, não usar o que não é bom e favorecer o que tem qualidade e o que é artesanal.

Acho que é preciso ensinar não só a utilizar a internet, mas a conhecer o mundo da internet. É preciso ensinar a saber como é selecionada a informação na mídia, pois a informação sempre passa por uma seleção – como e por quê?

É preciso ensinar, há todo um ensinamento, para nossa civilização, que não está pronto. Tem isso e ainda o ensino dos problemas fundamentais e globais. Essa é a reforma fundamental que precisa ser feita.” (Edgar Morin)

Publicado por Dorgival Soares

Administrador de empresas, especializado em reestruturação e recuperação de negócios. Minha formação é centrada em finanças, mas atuo com foco nas pessoas.

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