
Não sou de perder as esperanças, mas esse Brasil testa demais nossa resistência!
Aquele país que tinha tudo para dar certo, voltou aos princípios: terra e minérios.
O país não nasceu para ser desenvolvido; era apenas fonte de riquezas para a Metrópole. Ao invés de crescimento para os seus, extração para a Corte. Extrativismo: nossa vocação.
“Brasil, um sonho intenso, um raio vívido/ De amor e de esperança à terra desce … Gigante pela própria natureza/ És belo, és forte, impávido colosso/ E o teu futuro espelha essa grandeza/ Terra adorada …./ Deitado eternamente em berço esplêndido …”
Claro que a História não tem rotas definidas, mesmo que rasteje por repetidas trilhas, como disse José Honório Rodrigues, em 1949: “Exatidão, clareza, lógica e calculabilidade são propriedades do conhecimento natural; mutabilidade, criação, plenitude e responsabilidade, dramatismo e personalidade pertencem à história”.
Essa predestinação já foi evocada por alguns sensitivos.
Vejam o depoimento do Frei Vicente do Salvador, em 1627:
“(…) Pedro Álvares Cabral levantou a cruz em 3 de maio, quando se celebra a invenção da Santa Cruz, em que Cristo Nosso Redentor morreu por nós, e por esta causa pôs nome à terra, que havia descoberta, de Santa Cruz … porém como o demônio com o sinal da cruz perdeu todo o domínio que tinha sobre os homens, receando perder também o muito que tinha nos desta terra, trabalhou que se esquecesse o primeiro nome, e lhe ficasse o de Brasil, por causa de um pau assim chamado, de cor abrasada …
Ficou ele tão pouco estável, que com não haver hoje 100 anos, quando isto escrevo, que se começou a povoar, já se hão despovoados alguns lugares, e sendo a terra tão grande, e fértil, nem por isso vai em aumento, antes em diminuição.
Disto dão alguns a culpa aos reis de Portugal, outros aos povoadores; aos reis pelo pouco caso que haviam feito deste tão grande estado, que nem o título quiseram dele … nem depois da morte de el-rei d. João III, houve outro que dele curasse, senão para colher suas rendas e direitos.
Quanto aos povoadores, os quais por mais arraigados, que na terra estivessem, e mais ricos que fossem, tudo pretendiam levar a Portugal …
… uns e outro usam da terra, não como senhores, mas como usufrutuários, só para a desfrutarem, e a deixarem destruída.
Donde nasce também, que nenhum homem nesta terra é repúblico, nem zela ou trata do bem comum, senão cada um do bem particular. (…)
Estas são as razões porque alguns dizem que não permanece o Brasil nem vai em crescimento …”
Atualmente, as rendas exploratórias não mais se destinam a Portugal, vão para algumas offshores. No demais, pouco mudou.
A visão do Padre Antônio Vieira, em 1638, não é menos ácida:
“(…) Mas como a experiência ensina que, para a saúde ser segura e firme, não basta sobressarar a enfermidade, se não se arrancam as raízes e se cortam as causas dela, é necessário vermos ultimamente quais são e quais foram as causas desta enfermidade do Brasil.
A causa da enfermidade do Brasil é a mesma que a do pecado original. (…)
Esta é a causa original das doenças do Brasil: tomar o alheio, cobiças, interesses, ganhos e conveniências particulares, por onde a justiça se não guarda, e o Estado se perde.
Perde-se o Brasil porque alguns ministros de S. Majestade não vêm cá buscar o nosso bem, vêm buscar nossos bens. (…)
E como tantos sintomas lhe sobrevêm ao pobre enfermo, e todos acometem à cabeça e ao coração, que são as partes mais vitais, e todos são atrativos e contractivos do dinheiro, que é o nervo dos exércitos e das repúblicas, fica tomado todo o corpo, e tolhido de pés e mãos, sem haver mão esquerda que castigue, nem mão direita que premie, e, faltando a justiça punitiva …”
É isso, continuamos olhando pro chão. Nossas riquezas naturais obliteram o desenvolvimento tecnológico noutras áreas além da agricultura (salve Embrapa!).
Este é o nosso retrato:
