
Somos educados para reconhecermos e valorizarmos a cultura ocidental, especificamente a europeia.
O mundo não se resume à Europa, apesar de sua fantástica dominação a partir da Idade Moderna.
Ignoramos, em geral, a cultura oriental (exceto a bíblica), principalmente a chinesa, vietnamita, japonesa, coreana, a africana (egípcia, civilização Núbia, civilização Axumita – lembram da rainha de Sabá?), os persas …
Esquecemos, também, que havia vida aqui nas Américas, antes da chegada dos ilustres.
Os incas, por exemplo.
Falarei apenas sobre uma manifestação cultural, as estradas.
Acredita-se que por volta de 10.000 anos antes de Cristo, o homem tenha ido até o Báltico (saído originalmente da África – possivelmente da Etiópia), atrás do âmbar, “esse ato especial de Deus”.

As primeiras estradas feitas pelo homem foram provavelmente construídas para buscar sal, como a ‘Via Salaria’ – a estrada do sal, construída pelos romanos até Óstia, o porto da Roma imperial.
A roda veicular foi inventada ao redor de 3.000 anos a.C.; aí as estradas se expandiram.
A Pérsia abriu estradas até a Índia; o Egito, no tempo de Quéops, fez a sua para transportar os gigantescos blocos de pedra calcária para a Grande Pirâmide.
Senaquerib, o Assírio, construiu a sua estrada real. Dario, o Persa, fez uma de Susa à Babilônia.
Os romanos construíram o primeiro sistema de estradas. E, elas foram liberadas para todos, sem cobrança de taxas (sem pedágios). No auge, suas estradas corriam da Escócia (da Muralha de Antonino) a Jerusalém.
O que não se costuma falar é que, do outro lado do mundo, os incas construíram um sistema de estradas que reunia numa só entidade todos os elementos discordantes da sua terra – o deserto, as montanhas, as florestas -, e esse sistema era, sob muitos aspectos, superior a qualquer rede de vias de comunicação da Europa.
“De conformidade com isso, o Inca construiu a mais grandiosa estrada que há no mundo, e que é, também, a mais longa, porquanto ela se estende de Cuzco a Quito, e estava ligada de Cuzco ao Chile – numa distância de 800 léguas.
Acredito que, desde o começo da história escrita do homem, nunca houve outra narrativa de grandiosidade tamanha, como a que pode ser vista nesta estrada que passa por cima de vales profundos e por entre montanhas altaneiras, ao longo de alturas nevadas, sobre quedas de água, através da rocha viva e acompanhando as margens de torrentes tortuosas.
Em todos esses lugares, a estrada é bem construída. Apresenta-se bem terraceada nas faldas inclinadas das montanhas; através da rocha viva, está cortada, passando ao longo de barrancas de rio, barrancas estas amparadas por muros de escora; compõe-se de degraus e intercala-se de pontos de descanso, nas alturas cobertas de neve; descampa-se desanuviadamente, desobstruída de qualquer entulho, ao longo de todo o seu comprimento – com postos de guarda militar, galpões de armazenagem e Templos do Sol erguendo-se a intervalos determinados, no desenrolar do seu curso.” (Pedro Cieza de León, 1548)
Esse circuito de estradas permitiu ao império Inca dominar um quarto do continente sul-americano. E, também, aos espanhóis, realizar sua fulminante conquista.