Quem sabe o que se é?

Edgar Morin: lições de um centenário - Instituto Humanitas Unisinos - IHU
(Edgar Morin, nasceu em 1921)

A vida parece simples, para os simples.

Da mesma forma, organismos simples, em meios adequados, requerem pouco conhecimento e nenhum planejamento para manterem a vida, apenas reagindo. Bastam alguns mecanismos sensitivos e um conjunto de pré-configurações para reagir conforme o que for percebido e dispor de algum recurso para executar a reação selecionada.

Organismos complexos, por outro lado, vivendo em meios complexos (cada vez mais), demandam repertórios de conhecimentos, e, precisam tomar decisões – escolher entre muitas reações possíveis.

Eis o perigo de se nascer humano (com o potencial de ser humano, digo).

Há muitas bases preparatórias para se sair bem nessa vida (vivo e satisfeito, digamos). Todas embasadas em conhecimentos. Mas, para que lado olhar?

Aprendemos a olhar o que nos cerca, o exterior, como se não compuséssemos a paisagem.

Dessa perspectiva, situamo-nos no centro, o que nos torna importantes – achamos. Se tudo nos rodeia, pensamos que gravitam em função de nossa presença. Resquício ptolemaico.

Mais prudente seria nos vermos como “nadinha”; uma pretensão existencial.

Àqueles conscientes de sua precariedade, restam buscar o conhecimento, a partir da sua própria significância (ou insignificância). Procurar entender o mundo como sendo aquilo que nos aparta é nulificante e prejudicial para a humanidade – e a natureza.

Morin nos encoraja ao dizer que deve “haver um engajamento múltiplo e total do ser concreto em todo o conhecimento.”

Acrescenta: “Definimos a existência em função da precariedade e da incerteza próprias à vida de um ser cuja autonomia depende do seu meio.” Eis um roteiro para nossa inserção no mundo.

Do seu livro “O Método 3 – o Conhecimento do Conhecimento”, extraio as seguintes citações que Morin selecionou:

“Que belo tema de disputa sofística tu nos trazes, Menon; é a teoria segundo a qual não se pode procurar nem o que se conhece, nem o que não se conhece.

O que se conhece porque, conhecendo-o, não se tem necessidade de procurá-lo; o que não se conhece porque não se sabe o que se deve procurar.” (Platão)

“Não sabemos se sabemos … não sabemos nem mesmo o que é saber.” (Metrodoro de Chio)

“Que sei eu?” (Montaigne)

“Quem explicará a explicação?” (Byron)

“Eu sei tudo, mas não compreendo nada.” (René Daumal)

“É impossível refletir sobre o tempo e sobre o mistério da criação do mundo sem uma dolorosa tomada de consciência dos limites da inteligência humana.” (A. Whitehead)

“Os que eram os polos da Ciência e na assembleia dos sábios brilhavam como faróis. Não souberam encontrar o caminho na noite escura.” (Omar Khayyam)

“O que é bem conhecido, justamente por ser bem conhecido, não é conhecido.” (Hegel)

“Não é menos vão querer encontrar num suposto real a origem do conhecimento e da linguagem do que numa suposta ordem das ideias o princípio da gênese do mundo real.” (Claude Lefort)

“Se queremos conhecer a situação presente da humanidade em geral e a crise da nossa cultura em particular, devemos admitir que triunfamos e falhamos exatamente pela mesma razão: nosso tipo de racionalidade.” (Jerzy Wojciechowski)

“Onde está a sabedoria que perdemos no conhecimento; onde está o conhecimento perdido na informação?” (T. S. Eliot)

“Nunca houve tamanha possibilidade de conhecimento e tamanha probabilidade de obscurantismo.” (Boris Ryback)

“As intoxicações pela instrução são bem mais graves do que as intoxicações pelos subprodutos da indústria; as obstruções da informação, bem mais graves do que as das máquinas e instrumentos. As indigestões de signos, mais graves do que as alimentares.” (R. Ruyer)

“A ciência é o reflexo do homem no espelho da natureza.” (Pauli)

“O universo só é conhecido pelo homem através da lógica e das matemáticas, produto do seu espírito, mas ele só pode compreender como as construiu estudando a si mesmo, psicológica e biologicamente, ou seja, em função do universo inteiro.” (Piaget)

A atividade mental humana é uma parte, pequena e periférica parte, da matéria da ciência. É igualmente verdadeiro, todavia, que o todo da ciência também é somente uma parte … da atividade humana.” (Geoffrey Vickers)

“O verdadeiro problema é o seguinte: como a parte da realidade que começa pela consciência pode ajustar-se a outra parte descrita pela física e pela química.” (Niels Bohr)

“É preciso andar na margem … onde a razão gosta de estar em perigo.” (G. Bachelard)

“Onde está o perigo, cresce também o que salva.” (Hölderlin)

“É preciso que eu, incessantemente, mergulhe na água da dúvida.” (Wittgenstein)

“O absoluto é o verdadeiro inimigo do gênero humano.” (Friedrich Schlegel)

“Sempre coloquei nos meus escritos toda a minha vida e toda a minha pessoa.” (Nietzsche)

“Eu devia esperar que os filósofos e os físicos empreendessem uma cruzada contra mim, pois não passo de um vagabundo sem preconceitos, pleno de ideias não conformes nos diferentes domínios do conhecimento.” (Ernst Mach)

“Não se trata de dar ao leitor um verniz do que é ensinado de maneira mais aprofundada na Universidade, mas de realizar análises que normalmente não são feitas.” (B. d’Espagnat)

Publicado por Dorgival Soares

Administrador de empresas, especializado em reestruturação e recuperação de negócios. Minha formação é centrada em finanças, mas atuo com foco nas pessoas.

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