Em 1927, Freud ressaltava que o juízo que fazemos sobre a atividade humana é limitado por nossas perspectivas.
Isso é devido, principalmente, por nos restringirmos a um ou a alguns campos do saber. E, desse ponto de vista especializado, encontramos “verdades” que queremos aplicar ao variado mundo social.
Manifestações complexas não se explicam de forma simplificada, enviesada ou afunilada.
“… as expectativas subjetivas do indivíduo desempenham um papel difícil de avaliar, mostrando ser dependentes de fatores puramente pessoais de sua própria experiência, do maior ou menor otimismo de sua atitude para com a vida, tal como lhe foi ditada por seu temperamento ou por seu sucesso ou fracasso.” (Freud)
Podemos usar esse argumento para entendermos como “próceres”, em suas épocas, fizeram a cabeça de seus contemporâneos.
Comecemos com John Watson (1878-1958), que fundou o comportamentalismo (behaviorismo), por volta de 1925, com base nas teorias sobre condicionamento do russo Ivan Pavlov (1849-1936).
Watson, a partir do estudo do comportamento de ratos e macacos, entendeu a psicologia humana como assemelhada à psicologia animal:
“Deem-me uma dúzia de crianças pequenas saudáveis e bem formadas e o meu mundo específico para criá-las, e garanto escolher uma delas ao acaso e treiná-la para tornar-se qualquer tipo de especialista que eu quiser: médico, advogado, artista, comerciante, e, sim, até mendigo ou ladrão, sem levar em conta seus talentos, capacidades, inclinações, habilidades, vocação ou a raça de seus antepassados.” (John Watson)
Ou seja, ele acreditava que o ser humano é totalmente moldável, maleável – é só estar no ambiente certo. Essa ideia dominou a psicologia por muitas décadas.
Ora, não podemos ignorar o nosso potencial e diversidade, apesar de ótimos treinamentos.
Watson terminou sua vida profissional atuando no meio publicitário, onde suas ideias foram bem acolhidas.
Talvez seu homônimo famoso, o ficcional Dr. John Watson, biógrafo de Sherlock Holmes, tenha lhe inspirado:
“Pode ser que você mesmo não seja luminoso, Watson, mas é certamente um condutor de luz. Algumas pessoas, sem possuir a genialidade em si, têm um notável poder de estimulá-la.” (Holmes opinando sobre Watson)
E o nazista Konrad Lorenz, prêmio Nobel em 1973, que apoiava-se no processo de aprendizagem dos gansos?
Afinal, ele criou o conceito de “imprinting” (pintos e outras aves, imediatamente após nascerem, seguem o primeiro objeto em movimento que encontram – quer seja ou não a mãe), essencial na etologia.
“A altíssima taxa de reprodução dos imbecis morais já foi estabelecida há tempos (…)
Ao material humano socialmente inferior é permitido … penetrar e por fim aniquilar toda uma nação saudável.
Essa seleção para a tenacidade, o heroísmo, a utilidade social … deve ser levada a cabo por alguma instituição, de forma que a humanidade, na ausência de fatores seletivos, não seja arruinada por uma degeneração induzida pela domesticação.
A ideia racial como base do nosso Estado já conquistou muito a esse respeito.
Devemos – e deveríamos – confiar nos instintos saudáveis de nossos melhores homens e encarregá-los … do extermínio de elementos da população repletos de escória.” (Lorenz)
Essa fala reproduz a ideia eugenista, que perdura por tanto tempo. Eugenia negativa. Há a eugenia “positiva”, mais recente, que trata do aperfeiçoamento genético da espécie.
Sobre essa última, Lorenz não apostava: “É estupidez querer usar a ciência para melhorar um indivíduo e, além disso, é ainda mais estúpido pensar que a nossa ciência é suficiente para ‘aperfeiçoar’ o homem de forma arbitrária graças a intervenções no genoma humano.”
Durante o nazismo, trabalhava na triagem psicológica de poloneses com ascendência mista polonesa e alemã. Ele determinava quem era alemão o suficiente para escapar da morte.
Esses dois exemplos (Watson e Lorenz) foram muito influentes no século passado. Eles ajudaram a definir modos de educação e como avaliar determinadas expressões sociais e culturais, como autoridades.
Duvidar sempre é uma boa atitude.