
Em livro a ser publicado no inicio de 2022, David Chalmers afirma que a realidade virtual é uma realidade genuína. Para ele, os mundos virtuais não são mundos de segunda classe e que podemos viver uma vida “significativa” na realidade virtual. Aliás, podemos até já estarmos num mundo virtual!
Ele levanta muitas questões, nunca empoeiradas, sempre arejadas por múltiplas visões filosóficas – e agora pela neurociência – como: existe um mundo externo? existe um deus (ou deuses)? qual a natureza da realidade? qual a relação entre mente e corpo? etc.
Ele já havia sugerido, no livro The Conscious Mind, que a experiência consciente devia ser entendida como uma entidade irredutível (como o tempo, massa e espaço) que existe num nível fundamental e não pode ser entendida como a soma de suas partes. Seria algo emergente.
Ali, já incomodava ao dizer que a consciência pode ser experimentada por máquinas.
Chalmers defende que existe algo que experienciamos conscientemente que foge às explicações materialistas. Existe um aspecto subjetivo que parece de difícil reconciliação com os aspectos objetivos do mundo.
Isso nos remete às noções que Charles Sanders Peirce desenvolveu no início do século passado, sobre pensamento, mente, inteligência, vida, crescimento, evolução e continuidade nunca recuperadas ou reconhecidas pela ciência cognitiva.
Há o tema da consciência, de um lado, e o tema da mente, de outro. Isso não quer dizer que ambas, consciência e mente, pertençam a territórios separados. Não faz sentido negar suas relações, mas sim, reivindicar suas diferenças.
“O pensamento não está necessariamente conectado a um cérebro. Ele aparece no trabalho das abelhas, nos cristais e espalhado pelo mundo puramente físico; e ninguém pode negar que ele esteja realmente lá, tanto quanto estão as cores, as formas etc. dos objetos.
Se aderir consistentemente a essa negativa sem garantia, você será levado a alguma forma de nominalismo idealista próximo ao de Fichte. Não apenas o pensamento está no mundo orgânico como lá se desenvolve.” (Peirce)
Lucia Santaella atesta que “até pouco tempo atrás, essa citação costumava causar mal-estar nos seus comentadores. Hoje, ela não soa mais tão estranha, quando já se desenvolvem pesquisas, por exemplo, sobre os modos como as florestas e as plantas pensam.”
Eduardo Kohn afirma (em 2013, no livro “How forests think: toward an anthropology beyond the human“) que animais e florestas podem pensar e representar.
Mas aqui as próprias noções de pensamento e representação passam por uma redefinição radical, apoiada na filosofia de Peirce. Peirce foi ainda mais longe ao postular, inclusive aos cristais, o atributo do pensamento: