
Provérbios e canções, de Antonio Machado (trechos)
“Nossas horas são minutos
quando esperamos saber,
e séculos quando sabemos
o que se pode aprender.
Caminhante, são teus passos
o caminho e nada mais;
Caminhante, não há caminho
faz-se caminho ao andar
Ao andar se faz caminho
e ao voltar a vista atrás
se vê a estrada que nunca
se voltará a pisar.
Caminhante, não há caminho,
mas trilhas sobre o mar.”
Fazemos o nosso caminho, mesmo errante, mesmo sem consciência dele, mas que é inescusavelmente nosso.
“Nem eu nem ninguém mais pode caminhar esse caminho por você.
Você deve caminhá-lo por si mesmo.
Não está longe, está ao alcance.
Talvez você esteja nele desde que nasceu e não saiba.
Talvez esteja em todas as partes, sobre a água e sobre a terra.” (Walt Whitman)
Os caminhos são campos de potencialidades, aventuras, edificações e ruínas. É necessário que nos arrisquemos; sem isso não há experiências, que vivificam, mesmo que nos joguem na perdição. Essa perdição é libertadora, é nossa conquista. Ou, como Kafka: “chamamos caminhos os nossos titubeios”.
“… todo indivíduo, mesmo o mais restrito à mais banal das vidas, constitui, em si mesmo, um cosmo.
Traz em si suas multiplicidades internas, suas personalidades virtuais, uma infinidade de personagens quiméricos, uma poliexistência no real e no imaginário, o sono e a vigília, a obediência e a transgressão, o ostensivo e o secreto, pululâncias larvares em suas cavernas e grutas insondáveis.
Cada um contém em si galáxias de sonhos e de fantasias, de ímpetos insatisfeitos de desejos e de amores, abismos de infelicidade, vastidões de fria indiferença, ardores de astro em chamas, ímpetos de ódio, débeis anomalias, relâmpagos de lucidez, tempestades furiosas…
… o homem e seu herdeiro permanecerá pascaliano, ou seja, atormentado pelos dois infinitos; kantiano, porque se choca com as antinomias de seu espírito e os limites do mundo dos fenômenos; hegeliano, porque se encontra em perpétuo devir, em contínuas contradições, em busca da totalidade que lhe escapa.”
(Hadj Garum O’rin)