Temos muito o que fazer, preparando nosso próximo erro

Por que o Brasil não deu certo: um breve histórico | Artigos | A Crítica |  Amazônia - Amazonas - Manaus

“Hoje, eu realmente não acredito em coisa nenhuma que possa acontecer no Brasil”: desabafo de Antonio Callado, uma semana antes de morrer. Um livro póstumo, com suas crônicas, foi intitulado “O país que não teve infância”. Amadurecemos?

Os portugueses chegaram por aqui em 1500. Os ingleses começaram, de fato, a colonização do que viria a ser os EUA, em 1607, com a colônia de Virgínia. As outras doze colônias pioneiras foram fundadas entre 1623 e 1733.

Atualmente, o PIB americano é superior a US$ 20 trilhões, enquanto o do Brasil patina em US$ 1,4 trilhões.

Estamos no 12º lugar; Itália, Canadá, Coréia do Sul e Rússia já nos ultrapassaram. Logo poderemos ficar atrás da Austrália (US$ 1,33 trilhões) e Espanha (US$ 1,24 trilhões).

Por que perdemos o passo? O que nos diferencia em relação aos EUA e outros países ricos?

“Até 1980 estávamos entre as 3 economias do mundo que mais cresciam.

Durante o milagre econômico, iniciado em 1968 dobramos nossa renda per capita. Crescíamos a taxas chineses de mais de 10% ao ano nos 70.

Nossas exportações de manufaturados aumentavam e a indústria se sofisticava.

Nosso grande erro, porém, foi não ter feito do mercado mundial o motor do nosso crescimento; aqui Coreia do Sul e China acertaram na veia.

Lembrando que em 1980 Brasil, China e Coreia exportavam aproximadamente US$20 bilhões de dólares: hoje China exporta mais de 2 trilhões, Coreia 500 bilhões e Brasil 200.” (Paulo Gala)

Isto é a história recente. Há análises econômicas que explicam esse descuido.

Parafraseando Brecht, “temos muito o que fazer, preparando nosso próximo erro”.

Estaria Mia Couto se referindo ao Brasil ao dizer que “A maior desgraça de uma nação pobre é que em vez de produzir riqueza, produz ricos”?

Até meados do século passado, a explicação – “óbvia” – para esse descompasso entre o gigante do norte e o esquálido Brasil, era a questão da raça.

Nossos políticos e intelectuais – falando pelas elites – reproduziam confortavelmente as ideias racistas divulgadas na Europa por Joseph Arthur de Gobineau, Gustave Le Bon, Houston Chamberlain e outros.

Ainda no final do século XIX, já aceitávamos nossa derrota.

Joaquim Murtinho, como ministro da Indústria e Comércio do governo Prudente de Morais, preparou um relatório no qual acautelava a nação contra qualquer otimismo em relação às possibilidades industriais do Brasil:

“Não podemos, como muitos aspiram, tomar os Estados Unidos da América do Norte como tipo para nosso desenvolvimento industrial, porque não temos as aptidões superiores de sua raça, força que representa o papel principal no progresso industrial desse grande povo.” (Joaquim Murtinho, 1897)

Inacreditável! Mas, com esse relatório, credenciou-se para o ministério da Fazenda no governo Campos Sales.

“Por ‘complexo de vira-lata‘ entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. O brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a autoestima.” (Nelson Rodrigues)

Voltando à questão racial.

Gobineau foi embaixador no Brasil em 1869, enviado por Napoleão III. 

Detestou o país, que lhe deu “elementos” para a consolidação de suas ideias racistas.

Segundo ele, a única coisa boa no país era Dom Pedro II. Achava que o Brasil não tinha futuro, pois o país estava marcado pela presença de raças que julgava inferiores. 

Para ele, a miscigenação levaria a raça humana à degenerescência física e intelectual. Dizia: “Não creio que viemos dos macacos, mas creio que vamos nessa direção.”

Voltaremos ao tema de nosso atraso. Congênito, social ou cultural?

Publicado por Dorgival Soares

Administrador de empresas, especializado em reestruturação e recuperação de negócios. Minha formação é centrada em finanças, mas atuo com foco nas pessoas.

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