
Na minha curta existência, já fui premiado com a tentativa de golpe de Jânio, o golpe de 1964 e, querem que presencie mais um, no próximo dia 7 de setembro, quando uma maioria de 25% da população dirá ao presidente que o “autoriza”.
Do Jânio, cuja renúncia em 25 de agosto de 1961 (ontem fez 60 anos) deixou o país atônito e a extrema direita ouriçada, lembro de um episódio, embora fosse uma criança.
Minha pequena cidade parou; todos foram para os lados do trilho esperar a passagem de um trem no qual estaria o então candidato. Meu pai me colocou nos ombros, mas só vi vassouras nas janelas.
Ali estaria o homem que varreria a corrupção do país. Não tinha a menor ideia do que fosse corrupção, mas, meu pai explicou que era algo muito ruim.
Jânio Quadros (1917-1992) foi um fenômeno: professor de Geografia em dois dos melhores colégios paulistas, foi eleito vereador em 1947, deputado estadual (1950), prefeito (1953), governador (1954) e, finalmente presidente, em 1960.
Renunciou sete meses depois: acreditava que esta manobra lhe daria o poder absoluto, mas esqueceu de consultar os militares.
Seis meses antes de morrer, finalmente falou de suas intenções ao seu neto:
“Quando assumi a Presidência eu não sabia a verdadeira situação político-econômica do país.
A minha renúncia era para ter sido uma articulação.
Nunca imaginei que ela teria sido de fato aceita e executada.
Renunciei à minha candidatura à Presidência em 1960 e ela não foi aceita. Voltei com mais fôlego e força.
Meu ato de 25 de agosto de 1961 foi uma estratégia política que não deu certo, uma tentativa de governabilidade.
Também foi o maior fracasso político da história republicana do país.
O maior erro que já cometi.
Tudo foi muito bem planejado e organizado.
Mandei o João Goulart em missão oficial à China, no lugar mais longe possível, assim ele não estaria no Brasil para assumir ou fazer articulações políticas. (…)
Eu acreditava que não haveria ninguém para assumir a Presidência.
Pensei que os militares, os governadores e principalmente o povo nunca aceitariam a minha renúncia e exigiriam que eu ficasse no poder.
O Jango era, na época, semelhante ao Lula. Ele era completamente inaceitável para a elite.”
O povo, entretanto, se sentiu traído. Havia eleito um sujeito com a bandeira (vassoura) de mudar o país e, afundou-o mais.
Jânio, que era parecido com Groucho Marx, lembra-me o Princípio de Peter: “Com o tempo, cada cargo tende a ser preenchido por um funcionário incompetente para cumprir suas funções”. Ou, “O creme sempre cresce, até que um dia ele azeda”, que um humorista traduziu como “A merda sobe até boiar”.
Sua “principal” obra não chegou a ser concluída: a anexação da Guiana Francesa, departamento ultramarino da França, ao território brasileiro. Pelo menos tiraria os militares do ócio.
Nem tudo foi loucura: criou as primeiras reservas indígenas e os primeiros parques ecológicos nacionais e, acabou com alguns subsídios ao câmbio que beneficiavam determinados econômicos importadores.
Será que o novo Jânio também renunciará?
Uma retificação, Lula sempre foi aceito pela elite que tinha intenções de surrupiar a nação. E ele cumpriu muito bem este papel. O povo é que foi enganado. Lula não se pode comparar com nenhum presidente. Ele é único.
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