
Empédocles era poeta, médico, engenheiro, naturalista, reformador religioso e uma espécie de campeão da democracia: era filho de um político “fundador” da democracia em Agrigento, Sicília, e se envolveu nas lutas democráticas de sua cidade e, como prova da sua fé na democracia e respeito à igualdade cívica, recusou a coroa real que lhe ofereceram.
Por sua ampla cultura e ecletismo foi visto como filósofo, embora a filosofia stricto sensu, não lhe deva muita coisa. O fato é que, como filósofo, não se preocupava com uma extrema coerência, nem com ‘originalidades’; não se envergonhava de adotar inúmeras ideias alheias. Não aceitava uma “via única”; defendia que se deve “saltar de cume em cume”.
Ao mesmo tempo em que defendia a possibilidade da transformação do homem em deus, acreditava na metempsicose, a ideia egípcia (também presente no budismo tibetano) de que há uma transmigração da alma de um corpo para outro, mesmo que de outras espécies.
“Já com efeito, eu outrora fui (sucessivamente) menino, menina, arbusto, passarinho e, do mar saltando, mudo peixe.”
“Uma vinda à existência a partir de uma não-existência, bem como uma morte e aniquilação completa, são impossíveis; o que chamamos de vir à existência e a morte são apenas a mistura e separação do que estava misturado.”
Repetia Parmênides, ao dizer que o ‘ser’ é proposto originalmente e apreendido como idêntico ao ‘Uno’, idêntico pois a si mesmo.
“Empédocles põe fim à idade do mito, da tragédia, do orgiasmo, mas ao mesmo tempo surge com ele a imagem do grego mais moderno, democrata, orador racionalista, criador de alegorias, homem de ciência.
Dois séculos se defrontam nele … Pitágoras ou Demócrito, ele flutua entre os dois.” (Nietzsche)
O poeta Friedrich Hölderlin (1770-1843) o escolheu como o protótipo do homem que prenunciara o reinado da ação unificadora do amor, força esta que se poderia identificar com o ‘pneuma’, o espírito santo universal.
Sua obra “A Morte de Empédocles” sela esta admiração. Eis um trecho, com a fala de Empédocles:
“Não vos deixo perplexos,
Caríssimos! Nada tendes a temer! Quase sempre
Os filhos da terra temem o novo e o desconhecido,
Só a vida das plantas e a do alegre animal
Aspiram ficar em seu canto, encerrados em si mesmos.
Confinados em seu âmbito, cuidam
De subsistir; sua mente nada alcança
Além, na vida. Mas devem sair por fim
Os medrosos, e cada um na morte
Retorna ao elemento; então
Se reanima como no banho lustral para uma
Nova juventude. Aos homens é concedida a grande
Dádiva de retornarem, rejuvenescidos.”
Hölderlin, à sua forma, acreditava na força rejuvenescedora da natureza, apesar de sua hipocondria. Numa carta a um amigo, em 1797, expressa essa confiança:
“No que concerne ao universal, tenho Um consolo, ou seja, que toda efervescência e dissolução devem necessariamente conduzir à destruição ou a uma nova organização.
Mas não há aniquilamento, assim a juventude do mundo deve retornar de nossa decomposição.
Com certeza, pode-se dizer que o mundo nunca pareceu tão colorido como agora.
É uma imensa multiplicidade de contradições e contrastes: velho e novo! cultura e rudeza! malícia e paixão! egoísmo em pele de carneiro ou em pele de lobo! superstição e descrença! servidão e despotismo! inteligência irracional, razão tola! sentimento insípido, espírito insensível! (…)”