
Não dá para assistir como se não dissesse respeito a nós.
O Brasil patina há tempos; agora podemos retroceder também no espaço político. Essa democracia pífia que temos – mas que é como o pão dormido que não podemos descartar – está ameaçada, como sempre ocorre periodicamente neste país, que ainda não aprendeu a amar a liberdade.
As lideranças reagem timidamente, com o espirito corporativo prevalecendo sobre o institucional. Não dá para ser polido com agressores; não se convence insensatos.
Étienne Borne argumentava que “uma sabedoria excessivamente sensata, precavida contra todos os excessos, parece deixar traços menos profundos na história que as ambições desmedidas”.
O comedimento é visto como fraqueza pelo agressor. Polidez e argumentos são possíveis entre civilizados.
As raras autoridades de boa vontade devem se opor enfaticamente e com medidas cabíveis aos “fanatismos políticos presentes nos raciocínios do tipo ‘quem não está comigo, está contra mim’, que se sustentam na busca da destruição e da desqualificação um do outro …”, dizia Borne, há meio século.
Politicamente, Borne acompanhava o pensador cristão Emmanuel Mounier, expoente do “personalismo comunitário“, uma alternativa entre o liberalismo e o comunismo.
Segundo esse personalismo, “uma ação é boa na medida em que respeita a pessoa humana e contribui para sua realização; caso contrário, a ação é má”.
Nosso pobre Brasil está assediado de más ações. E, esquecemos, tudo mantido com cerca de 1/3 do que geramos de riqueza. Pagamos um absurdo em impostos para manter impostores.
Borne via o fanatismo ideológico das “sociedades fechadas” como uma das figurações por excelência do Mal.
O Mal nos persegue, às vezes como manifestação da natureza (terremotos, inundações …), mesmo que estimulada por nós, e, corriqueiramente, pelo terror histórico.
Hegel entendia o mal como uma “etapa evolutiva da razão”.
Schopenhauer era mais cru: o mal seria a revelação do eterno autodilaceramento da Vontade irracional que engendra e rege, qual cruel demiurgo gnóstico, a existência universal.
A filosofia personalista, segundo Borne, confere à pessoa o cerne de singularidade ética, estética e metafísica, faria de nós mais que meros e descartáveis espécimes de espécies.
Em momentos como o que vivemos, Schopenhauer é tentador, com suas tintas fortes, apontando a ignorância como um refúgio: “Quanto menos inteligente um homem é, menos misteriosa lhe parece a existência.”