
É incrível, mas há empresas que ainda tratam seus trabalhadores como “empregados”. Etimologicamente, em latim (implicare), emprego significava juntar.
O “empregado” era “mais um” a se somar num empreendimento. Algo indistinto, normalizado, braços; a ser vigiado e controlado. O que tinha a fazer já estava definido; nada mais era permitido; seria uma violação.
Uma usurpação antecipada do espaço das máquinas: ao contrário da ideia de que as máquinas vêm para substituir o humano, foi esse tipo de trabalhador que atrasou a vinda das máquinas.
A chegada tempestuosa dos braços mecânicos e dos cérebros não pensantes é legítima. Esse fazer não é para humanos. Se nós, humanos, vamos ficar sem renda (a maioria dos empregos é dispensável) é outra questão: somos incapazes de compartilhar a riqueza mundial, desde a primeira grilagem de terra. Essa é uma questão política, a inconciliável divisão entre o coletivo e o individual.
O fato é que as tecnologias digitais e de IA estão transformando o mundo do trabalho e que novas habilidades precisam ser assimiladas e – essencial – é necessário aprender a se adaptar continuamente à medida que novas ocupações surgem e que a complexidade do mundo se impõe.
Nós, que fomos educados para não pensar (e as crianças atuais ainda são), apenas replicar conceitos e práticas – quase um processo de doma, domesticação – temos que aprender a aprender.
Já em 1995, Humberto Mariotti alertava contra o imediatismo e para o conceito de “empresa como um núcleo de ensino e aprendizado, em que o fluxo da informação pode e deve ser ininterrupto”.
Pesquisa recente da McKinsey identifica as habilidades que mobilizarão as atenções de quem deseja manter-se no jogo:
A realidade determina que o ser humano seja visto como um todo, integral, embora seja uma parte, consciente da sua interdependência.
Num de seus livros, Adam Grant ressalta que muitos de nós aceitamos o que é padrão em nossa vida, principalmente no trabalho. A rotina, que nos anula, passa a ser nossa “obra”.
Numa pesquisa com mais de 30 mil funcionários de call centers, Michael Housman verificou que um grupo deles permanecia 15% a mais vinculados ao seu trabalho, faltava 19% menos e, obtinha melhores níveis de satisfação do cliente que os demais.
Eram pessoas inconformadas, curiosas: o indício é que elas haviam mudado o navegador padrão (Internet Explorer e Safari) de seus equipamentos para outros (Firefox e Chrome), não pré-instalados. Não quer dizer que os navegadores escolhidos sejam melhores, eles simplesmente não aceitaram o “pacote completo”.
“Em vez de aceitar o padrão, toma a iniciativa de procurar uma opção que possa ser melhor. Esse ato de iniciativa, embora minúsculo, é uma janela para aquilo que você faz no trabalho.” (Housman)
Por outro lado, lamentavelmente, “as pessoas que mais sofrem com determinado estado de coisas são, paradoxalmente, as menos propensas a questionar, desafiar, rejeitar e mudar esse estado”, diz John Jost.
Dessa forma, continua Jost, grupos em situação de desvantagem mostram-se consistentemente mais inclinados a defender o status quo do que os que são privilegiados. As pessoas que se situam nos patamares salariais mais baixos consideram a desigualdade econômica necessária. E, são essas as mais dispostas a abrir mão da liberdade de expressão.
Isso é fruto do processo “educativo”. Os pobres estão condenados a ser pobres e a eleger os vitoriosos, achando que é esse o normal.