
“O Reino dos Céus é semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo. Embora seja a menor de todas as sementes, quando cresce é a maior das hortaliças e torna-se árvore, a tal ponto que as aves do céu se abrigam em seus ramos.” (Mateus 13, 31-32)
Esta parábola, contada por Jesus, e registrada em três dos Evangelhos, traz mensagens interessantes: fala de aparência, percepção, potência, destinação, imanência, essência, substância, propagação, conteúdo etc.
Trago parte da leitura que dela faz Huberto Rohden:
“Na parábola do grão de mostarda, focaliza o Mestre a aparente impotência da onipotência espiritual, quase sempre oculta pelas ilusórias grandezas das coisas materiais.
Os nossos sentidos e o nosso intelecto não percebem numa semente senão os contenedores externos, e nada sabem do conteúdo interno, da vida invisível, que criou esses invólucros visíveis.
O conteúdo vivo vivifica os contenedores mortos, mas o homem profano só enxerga os envoltórios vivificados e ignora o centro vivificante.
O homem empírico-analítico nada sabe da Vida, só conhece os vivos e, enquanto não entrar numa nova dimensão de consciência, nunca saberá o que é a Vida que produz os vivos, o Criador que cria as criaturas, a Realidade que causa as facticidades.
A parábola do grão de mostarda é um convite para descobrirmos a Realidade da Vida em todas as facticidades vivas.
A Vida é imanente em todos os vivos.
A Vida não é algo justaposto aos vivos, mas é sua alma, sua íntima essência, é o Uno que produz o Verso, formando o Universo.
A melhor palavra para designar Deus seria Vida.
Em face da Vida não há ateus.
A Vida é a Realidade universal do cosmos, que nunca foi negada por ninguém.
Deus não é algo transcendente ao mundo, ele, a Vida, é imanente ao mundo, como a Vida; Deus é a alma do Universo, e o Universo é o corpo de Deus, como dizia Spinoza.
De forma semelhante, o Reino de Deus no homem não é algo adicionado ao homem, algo como um artigo de luxo que o homem use de vez em quando, como enfeite festivo.
‘O Reino de Deus está dentro de vós’, assim como a Vida está dentro dos vivos; é a alma, essência e quintessência do homem.
Nenhum vivo seria vivo se nele não estivesse a Vida, e se ele não estivesse na Vida; todo vivo pode dizer: eu e a Vida somos um; a Vida está em mim, e eu estou na Vida – mas a Vida é maior que eu.
Deus é a Vida, e nós somos os vivos. Essencialmente, cada um de nós é Vida; existencialmente, somos vivos.
Quando os vivos se deixam penetrar totalmente pela Vida, então os próprios vivos, a princípio pequeninos como um grãozinho de semente, serão engrandecidos pela Vida, e os vivos pequenos serão a tal ponto beneficiados pela Vida que se tornarão vivos grandes.
O maior benefício que o vivo pode fazer a si mesmo é deixar-se penetrar pela Vida.
A Vida é o maior benfeitor dos vivos.
O Eu divino é o maior benfeitor do ego humano, embora este, na sua ignorância, muitas vezes seja inimigo do Eu.
Neste sentido diz Krishna na Bhagavad Gita: ‘O Eu é o maior amigo do ego, embora o ego seja o pior inimigo do Eu’.
E o próprio Cristo, no Evangelho, afirma: ‘Quem quiser salvar a sua vida (ego), perdê-la-á; mas quem quiser perder a sua vida por amor de mim e do Evangelho (Eu) salvá-la-á’. (…)”
Fonte: “Sabedoria das parábolas”, de Huberto Rohden.