
Um bando de salteadores abordou Zadig e um deles disse: “Tudo o que levas nos pertence, e a tua pessoa pertence ao nosso amo!”.
Zadig e seu criado sacaram as espadas e resistiram ao ataque.
Arbogad, o líder dos assaltantes, observava e ficou impressionado com a valentia de Zadig. Mandou seus homens pararem e convidou Zadig ao seu castelo.
Lá explicou porque entrara neste “ramo”:
“Desde os mais tenros anos, fui criado de um árabe muito esperto e tal situação era-me insuportável.
Sentia-me desesperado por ver que em toda a terra, que pertence igualmente aos homens, o destino me não houvesse reservado a minha parte.”
Zadig é um personagem ambientado na Babilônia, criado por Voltaire, no livro de mesmo nome de 1747.
Zadig procura ser íntegro e sábio, mas a vida só lhe apronta revezes.
Apaixonado por Semira – que também se mostra entusiasticamente apaixonada – é abandonado por ela após defendê-la num ataque na estrada. Foi ferido num olho. Após curar-se, descobre que a Semira já estava casada, pois não queria um homem que poderia ficar caolho.
Começa a aprender a lição de Zoroastro: “O amor-próprio é um balão cheio de vento, de onde rompem tempestades quando se lhes dá uma picada.”
Interessa-se depois por Azora, uma moça considerada a mais ajuizada e mais bem nascida da cidade, para logo descobrir que “ela era um tanto leviana, e muito inclinada a achar que os homens bonitos eram os mais inteligentes e virtuosos”.
“Dizem que a desgraça é menor quando não estamos sozinhos, e segundo Zoroastro, não por maldade, mas por necessidade. Sentimo-nos atraídos para um infeliz como para um semelhante. A alegria de um homem feliz seria um insulto, mas dois desgraçados são como dois frágeis arbustos, que apoiando-se um no outro se fortalecem contra a ventania.” (Voltaire)
Após colecionar decepções na vida, Zadig encontra um eremita sábio que lhe ensina sobre as aparentes incongruências do destino:
” … ninguém conhece os caminhos da Providência, e que os homens fazem mal em julgar um todo do qual não compreendem senão a ínfima parte.
… as paixões … são os ventos que enfunam as velas do navio; por vezes afundam-no, mas sem elas o barco não poderia vogar. A bílis produz a irritação e a doença, mas sem a bílis o homem não conseguiria viver.
Tudo é perigoso neste mundo e tudo é necessário.”
Esse eremita depois se revela como o anjo Jesrad, e complementa: “Os maus são sempre infelizes; servem para por à prova um escasso número de justos espalhados pela terra, e não há mal de que se não origine um bem”.
Já então, Jesrad antecipa a ideia de Multiverso: “O Ente Supremo criou milhões de mundos, nenhum dos quais deve assemelhar-se ao outro”.
Essa narrativa parece mostrar um Voltaire leibniziano, convencido da presença de uma providência que ao fim e ao cabo organiza para o bem (ou o maior bem possível) o aparente caos da vida humana, segundo Paul Pelckmans e Jacques Van den Heuvel.
Mas, sempre um otimismo duvidoso, típico de Voltaire, um desconfiado radical.
Zadig foi valente. A covardia é o preço amargo . Tanto que Arbogado lhe ensinou várias coisa. Zadig procura ser íntegro e sábio, mas a vida só lhe apronta revezes.Até a sua paixão o abandonou por não querer ficar com um caolho. Mas a lição mais importante foi-lhe dada por um eremita as paixões … são os ventos que enfunam as velas do navio; por vezes afundam-no, mas sem elas o barco não poderia vogar. A bílis produz a irritação e a doença, mas sem a bílis o homem não conseguiria viver.
Tudo é perigoso neste mundo e tudo é necessário.”
Esse eremita depois se revela como o anjo Jesrad, e complementa: “Os maus são sempre infelizes; servem para por à prova um escasso número de justos espalhados pela terra, e não há mal de que se não origine um bem”.. que belo texto. maravilhosa lição. O Ente Supremo criou milhões de mundos, nenhum dos quais deve assemelhar-se ao outro.
CurtirCurtir