
Em Hamlet, Polônio é o primeiro-ministro da Dinamarca e conselheiro do rei; pai da infeliz Ofélia e de Laertes.
Como político, é escorregadio, equilibrista e camaleônico, um pioneiro da PNL: fala o que o interlocutor quer ouvir, num esforço de rapport – o empático “profissional”.
Há um momento em que Polônio vai chamar Hamlet para conversar com sua mãe, e o encontra transtornado. Assume o papel de amigo, solidário:
“Polônio: – Meu senhor, a rainha deseja falar convosco, e agora mesmo.
Hamlet: – Vedes aquela nuvem quase em forma de camelo?
Polônio: – Pela santa missa, é mesmo como um camelo.
Hamlet: – Acho-a igual a uma doninha.
Polônio: – Sim, tem o dorso de uma doninha.
Hamlet: – Ou de uma baleia?
Polônio: – Muito semelhante ao de uma baleia.”
Noutro momento, aconselha seu filho, Laertes, que está de partida.
Polônio assume o papel de pai, sábio conselheiro:
“… estais sendo aguardado. Vai, com minha bênção, e faze por gravar na ideia estes preceitos.
Aos pensamentos não dês língua, nem ação a um pensamento imoderado.
Sê afável, mas não vulgar.
Com aros de aço prende n’alma os amigos que tenhas – de afeição provada – mas não calejes tua mão dando acolhida a todo implume herói, nem bem saído do ovo.
Receia entrar em discussão; porém, se entrares, faze que o teu contrário haja de te recear.
Ouve a quem seja, mas opina para poucos; atenta para o que achem mas reserva o juízo .
Adquire roupas caras, dentro do possível, mas que não deem na vista; ricas, não berrantes.
Pois muitas vezes o hábito revela o homem, e em França os de mais alta classe e posição são bem seletos e fidalgos no vestir-se.
Não tomes por empréstimo e tampouco emprestes, que o empréstimo nos faz perder dinheiro e amigo, e o gume da poupança as dívidas embotam.
Mas, sobretudo, sê leal contigo mesmo: e seguir-se-á, tal como a noite segue o dia, que então não poderás ser falso com os outros.”
Bons conselhos, daqueles que reservamos a quem se preza.
Polônio é um exemplo de que as aparências podem esconder matéria diferente daquela que se mostra.
É esse Polônio que percebe que o que Hamlet vive “É loucura, mas há método nela”.
E quantos de nossos métodos não são loucos, insanos? Polônio, por exemplo, com seu zelo extremado, provoca sua morte.
(A tradução foi de a de Péricles Eugênio da Silva Ramos)