
“Por que eu sempre nado contra a corrente? Porque só assim se chega às nascentes”. (José Lutzenberger)
“Sou pessimista quanto à raça humana, porque ela é tão engenhosa que acaba se voltando contra si mesma. Nosso modo de lidar com a natureza é obrigá-la à submissão. Teríamos mais possibilidades de sobrevivência se nos acomodássemos a esse planeta e o encarássemos com apreço, e não de modo cético e ditatorial.” (Elwyn B. White, 1899-1985)
Lá atrás, pensadores, como Confúcio (551-479 a.C.) já insistia na harmonia cósmica entre a natureza e os princípios.
Platão (428-348 a.C.) e Aristóteles (384-322 a.C.) enunciavam o conceito de natureza (physis) como referente a algo concreto (plantas, animais etc.), mas que dependia de algo sobrenatural (metaphysis) e essencial, relacionado a ideias e princípios cosmológicos.
No século XVIII, Rousseau fazia a defesa do estado de natureza, ao referir-se ao homem que se encontrava em estado primitivo: “a felicidade do homem está em viver em harmonia com a natureza”.
Ralph Waldo Emerson, retomou o assunto, como poeta. Em 1836, com seu livro “Natureza”, nos faz refletir sobre o que está ao nosso redor.
“Indaguemos: com que fim existe a natureza?”
“Adote o ritmo da natureza. O segredo dela é a paciência.”
Em 1854, Henry Thoreau publicou “Walden, ou A Vida nos Bosques”, que acordou a muitos sobre a necessidade que as cidades (e seu estilo de vida) têm dos bosques.
“… os homens trabalham à sombra de um erro, lançando ao solo para adubo o que têm de melhor. Por uma sina ilusória, vulgarmente chamada necessidade, desgastam-se, como se diz num velho livro, a amontoar tesouros que a traça e a ferrugem estragarão e que surgem ladrões para roubar.
É uma vida de imbecis, como perceberão ao fim dela, se não antes.
… se fôssemos de fato restaurar o gênero humano por meios genuinamente indígenas, botânicos, magnéticos ou naturais, caberia, em primeiro lugar, sermos nós mesmos simples e bons como a Natureza …” (Thoreau)
Em 1943, tivemos Sir Albert Howard, com “Um Testamento Agrícola”. Após sua revolução da agricultura orgânica, divulgou a agroecologia que, sonhava, alimentaria a humanidade e não seria apenas objeto de lucro.
“O solo conserva sempre uma grande reserva de fertilidade. Na agricultura da natureza não se faz sentir a escassez.” (Howard)
Aldo Leopold, em decorrência da prática da conservação em seu próprio sítio, escreveu o clássico “Almanaque de um Condado Arenoso”, publicado postumamente em 1949.
Nele, ressalta a necessidade de se respeitar os equilíbrios naturais e critica o antropocentrismo e as devastadoras intervenções humanas sobre os ecossistemas.
“Tenho lido muitas definições sobre o que é ser um conservacionista … suspeito que a melhor definição é aquela escrita não com uma caneta, mas com um machado. Trata-se de uma questão sobre o que um homem pensa enquanto decide o que vai cortar.
Um conservacionista é aquele que é humildemente consciente de que, com cada golpe, ele está assinando seu nome na face do seu terreno.” (Aldo Leopold)
O clássico “Primavera Silenciosa”, de Rachel Carson, de 1962, trouxe o tema à tona, com reflexos imediatos, como a proibição do DDT e inspirou mudanças nas leis que dizem respeito ao ar, terra e água.
Pode-se dizer que esse livro desencadeou o movimento ambientalista como o conhecemos.
“O equilíbrio da natureza não é, atualmente, o mesmo que vigorava na era pleistocênica, mas continua existindo: um sistema complexo, preciso e altamente integrado de relações entre seres vivos que não pode ser ignorado sem riscos …” (Carson)
“Os juncos secaram às margens do lago. E nenhum pássaro canta.” (Keats)
O Clube de Roma divulgou, em 1972, o estudo “Os Limites do Crescimento“, uma projeção assustadora sobre o destino da humanidade caso tudo continuasse nos mesmos jeito e ritmo.
Apontava problemas cruciais para o futuro desenvolvimento da humanidade tais como energia, poluição, saneamento, saúde, ambiente, tecnologia e crescimento populacional.
O livro gerou manchetes em todo o mundo. Suas ondas de choque fizeram com que nossas suposições mais acalentadas desmoronassem. O assunto Meio Ambiente, finalmente entrava em pauta.
Em seguida, 1973, o filósofo norueguês Arne Naess lança o conceito de Ecologia Profunda, uma resposta à visão dominante sobre o uso dos recursos naturais, resumida neste quadro:
Visão de Mundo | Ecologia Profunda |
Domínio da Natureza | Harmonia com a Natureza |
Ambiente natural como recurso para os seres humanos | Toda a Natureza tem valor intínseco |
Seres humanos são superiores aos demais seres vivos | Igualdade entre as diferentes espécies |
Crescimento econômico e material como base para o crescimento humano | Objetivos materiais a serviço de objetivos maiores de autorrealização |
Crença em amplas reservas de recursos | Planeta tem recursos limitados |
Progresso e soluções baseados em alta tecnologia | Tecnologia apropriada e ciência não dominante |
Consumismo | Fazendo com o necessário e reciclando |
Comunidade nacional centralizada | Biorregiões e reconhecimento de tradições das minoriais |
Nos anos 1970, tínhamos também o nosso quixote: José Lutzenberger, que lembrava do nosso compromisso especial com a herança com que fomos abençoados.
Como ele estaria vendo o desastre orquestrado de nosso meio ambiente?