
“A vida não tem significado. Cada um de nós tem seu significado e o traz para a vida. É uma perda de tempo fazer perguntas quando você é a resposta.” (Joseph Campbell)
No mais recente livro de Humberto Mariotti e Cristina Zauhy (“Longe do equilíbrio – A exclusão do humano e suas consequências”), que recomendo, revejo os enunciados que constavam no pórtico do Oráculo de Delfos:
- “conhece-te a ti mesmo”
- “nada em excesso”
- “comprometer-se traz infelicidade”
Está tudo aí para o bem-viver. O fato é que somos distraídos pelos outros e pelos acontecimentos. E giramos excentricamente, sem centro e sem propósito. O que os outros dizem ou fazem viram nossos sonhos ou metas – perseguimos suas sombras, esquecemos nossa luz.
“Em vez de buscar o autoconhecimento, fugimos dele por meio do que chamamos de ‘conhecimento objetivo’; olhar para fora, não para dentro. Temos medo dos outros, mas também tememos a nós mesmos.
Também aplicamos ao contrário a máxima ‘nada em excesso’. Fazemos isso para o bem e para o mal, pois em nossa cultura ‘mais’ é quase sempre visto como sinônimo de ‘melhor’.
A máxima ‘comprometer-se traz infelicidade’ refere-se aos comprometimentos incondicionais, aos apegos irreversíveis. É o que acontece com a adesão irrestrita a pessoas, instituições e ideologias, que tendem a nos transformar em massa de manobra. Somos transformados em militantes fiéis e obedientes, quando não em fanáticos.” (H. Mariotti e C. Zauhy)
Abrir mão de si em proveito de outros não parece algo adequado à nossa razão de ser. Embora, desconfio, a grande maioria de nós sente-se cada vez melhor na subserviência.
Tememos a nós mesmos porque não estamos familiarizados conosco – a pessoa no espelho é uma figura estranha, da qual, normalmente, só temos críticas a fazer por nossa infelicidade.
Parodiando Nassim Taleb, que afirma que “quase tudo aquilo que vem de cima para baixo fragiliza e bloqueia a antifragilidade e o crescimento, tudo que vai de baixo para cima prospera sob a quantidade certa de tensão e desordem”, substituo “de cima para baixo” por “de fora para dentro” e entendo a fragilidade cultivada e cultuada atualmente por massas crescentes.
Um das razões para que pouco nos aceitemos como somos é que não sabemos conviver com “a quantidade certa de tensão e desordem” natural da vida. Tensão, dizemos que é problema e desordem, descaminho.
Ao nos devotarmos ao futuro, criamos a ilusão de previsibilidade como necessária para o bom desenvolvimento. Não gostamos de sustos ou contratempos. Ora, nem nos quartéis existe esta ordem.
“A vida é muito mais labiríntica do que lembramos em nossa memória – nossa mente está ocupada em transformar a história em algo suave e linear, o que nos faz subestimar a aleatoriedade.” (Nassim Taleb)
A vida pode ser simples, mas nunca deixará de ser complexa.
A simplicidade é desejável, no sentido divulgado por John Maeda: “A simplicidade consiste em subtrair o óbvio e acrescentar o significativo.”
A vida é cheia de “ruídos”, que podemos chamar de “desinformações”. Esses ruídos, perturbações e atritos que nos cercam, agem como uma cortina que nos impede de ver os princípios normalmente simples que orientam os fenômenos naturais e sociais.