Etnomatemática

UBIRATAN D'AMBROSIO
(Ubiratan D’Ambrosio, 1932-2021)

Ubiratan D’Ambrosio era um matemático, reconhecido mundialmente pela comunidade acadêmica por seus estudos pioneiros na área de Etnomatemática.

O que é isso? É “a matemática praticada por grupos culturais, tais como comunidades urbanas e rurais, grupos de trabalhadores, classes profissionais, crianças de uma certa faixa etária, sociedades indígenas, e tantos outros grupos que se identificam por objetivos e tradições comuns aos grupos”, nas suas palavras.

A matemática como uma espécie de semiótica. Mas, por trás, estava sua preocupação com a recuperação da dignidade cultural do ser humano, violentada pela exclusão social.

Em 2001, foi laureado pela Comissão Internacional de História da Matemática por suas contribuições à História da Matemática e, em 2005 ganhou a medalha Felix Klein, pela Comissão Internacional de Instrução Matemática, por conta de suas contribuições no campo da educação matemática.

Desde os séculos dos descobrimentos, a Europa se põe no umbigo do mundo; até os milenares povos orientais são tratados com certo desdém.

D’Ambrosio cita o exemplo de Alexander von Humboldt (1768-1859), que após suas expedições científicas (1799 a 1804), concluiu que a régua eurocêntrica é mais alta:

“… é aos habitantes de uma pequena seção da zona temperada que o resto da humanidade deve a primeira revelação de uma familiaridade íntima e racional com as forças governando o mundo físico.

Além disso, é da mesma zona (que é aparentemente mais favorável aos progressos da razão, a brandura das maneiras, e a segurança da liberdade pública) que os germes da civilização foram carregados para as regiões dos trópicos.”

Talvez tenha razão. A “civilização” ainda é algo exótico para nós.

Até nossas guerras pela independência são estranhas. Independência de poucos.

Segundo Herbert Aptheker, a independência dos EUA difere das demais nas Américas porque foi, de fato, uma revolução inglesa que aconteceu além-Atlântico.

Oswald Spengler, entretanto, via a matemática – inclusive a praticada pelos “primitivos” – como uma manifestação cultural viva. Não havia, achava, uma só matemática, mas muitas, em total integração com as demais manifestações de uma cultura.

Esse entendimento pode ser aplicado tanto para as várias culturas existentes como para a evolução cultural da humanidade como um todo.

William McNeill afirmava que canto e dança foram as primeiras grandes inovações que distinguiram a espécie humana, no seu curso evolutivo, em relação aos seus parentes, os chimpanzés. E, canto e dança estão intimamente associados com as representações matemáticas de espaço e tempo.

A etnomatemática, então, procura situar o estudo da matemática do ponto de vista transdisciplinar, histórico, geográfico, antropológico …

Aos interessados, recomendo o livro de D’Ambrosio “Etnomatemática – Elo entre as Tradições e a Modernidade”.

Publicado por Dorgival Soares

Administrador de empresas, especializado em reestruturação e recuperação de negócios. Minha formação é centrada em finanças, mas atuo com foco nas pessoas.

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