
Émilie du Châtelet (1706-1749) era uma cientista, aficionada por matemática e física.
Foi educada num padrão diferente para uma menina da época. Aprendeu latim, grego, alemão, italiano e inglês e, música, dança, teatro, literatura e ciência.
A tradução que fez do Principia Mathematica, de Newton, continua como padrão em francês: um volume de mais de 500 páginas com contestações e checagens próprias e de terceiros às teorias do físico inglês.
Era casada, mas ela e o marido concordavam que levassem vidas pessoais independentes. Ela teve vários amantes, o mais duradouro foi Voltaire.
“Ela era demais para a maioria das pessoas do seu tempo: ambiciosa demais, intelectual demais, emocional demais e liberada sexualmente demais.” (Robyn Arianrhod)
Aliás, ao engravidar pela quarta vez, pressentiu que não resistiria ao parto e acelerou sua última obra, a tradução citada acima. Conseguiu concluí-la pouco antes do parto e morreu seis dias depois.
Ela também era uma pensadora e escreveu “Discurso sobre a felicidade“, aos 40 anos de idade – dois antes de morrer. Destaco alguns trechos:
“… ser feliz é difícil. Contudo, se as reflexões e o plano de conduta precedessem as ações humanas, seria mais fácil sê-lo. Arrastados pelas circunstâncias, aferramo-nos a esperanças que nunca proporcionam senão metade do que esperamos delas (…)
Para ser feliz, é preciso despir-se dos preconceitos, ser virtuoso, comportar-se bem, ter impulsos e paixões e ser suscetível à ilusão, uma vez que devemos a ela a maior parte de nossos prazeres, e ai daquele que a perde. (…)
O primeiro passo consiste em nos dizer e nos convencer efetivamente de que nada temos a fazer neste mundo senão cultivar sensações e sentimentos agradáveis.
Os moralistas que declaram aos homens ‘se quiserem ser felizes, reprimam suas paixões e controlem seus desejos’ não conhecem o caminho da felicidade.
Só somos felizes em decorrência de afetos e paixões saciadas; (digo afetos) porque nem sempre somos felizes o bastante para cultivar paixões, e, na ausência delas, resta nos contentar com os afetos.
Logo, se ousássemos pedir alguma coisa a Deus, paixões é o que deveríamos pedir; aliás, André Le Nôtre tinha toda a razão ao solicitar ao papa tentações em lugar de indulgências.
Porém, alguém dirá, paixões não geram só felicidade, mas também infelicidade.
Não tenho a balança exigida para pesar em valores absolutos o bem e o mal que elas causam aos homens; mas vale ressaltar, contudo, que os infelizes são conhecidos por necessitar dos outros, comprazer-se em contar seus infortúnios e procurar remédios e alívio.
As pessoas felizes não procuram nada, assim como não alardeiam sua felicidade; os infelizes são interessantes, os felizes, desconhecidos. (…)”
O texto integral está no link abaixo: