
Será que físicos precisam de evidência empírica para confirmar suas teorias? Assim Marcelo Gleiser começa um capítulo (Ciência em Crise?) de seu novo livro.
Acompanhamos que algumas áreas da ciência procuram se desobrigar da necessidade de “comprovar” seus enunciados – como provar o Big Bang, por exemplo.
As hipóteses tendem a permanecer como conjeturas, não testadas. Diminuem os novos axiomas – que requerem testes e corroboração.
Karl Popper: uma teoria deve ser falseável para ser científica. Mas, a falseabilidade pode ser exclusivamente por meios lógicos, dedutivos?
Isso se aplica ao inobservável, com campos cada vez mais explorados pela ciência.
Pedro Ferreira, professor de astrofísica em Oxford, fala que “a física como a conhecemos é elegante e primorosamente precisa. Mas, não diz quase nada sobre os enigmas mais profundos do Universo. Há um abismo cósmico.”
“Entre os defensores da ‘elegância bastará’ destacam-se alguns teóricos das cordas.
Como a teoria das cordas é supostamente o ‘único jogo na cidade’ capaz de unificar as quatro forças fundamentais, eles acreditam que ela deve conter um grão de verdade, embora dependa de dimensões extras que nunca poderemos observar.
Alguns cosmólogos também estão procurando abandonar a verificação experimental de grandes hipóteses que invocam domínios imperceptíveis como o multiverso caleidoscópico (compreendendo uma miríade de universos), a versão de ‘muitos mundos’ da realidade quântica (em que as observações geram ramos paralelos da realidade) e conceitos tipo Big Bang.” (George Ellis e Joe Silk)
A ciência carregará o estandarte da verdade? O que é verdade, real? Há um dano potencial à confiança do público na ciência e na natureza da física fundamental?
Para Richard Dawid, a veracidade da teoria das cordas pode ser estabelecida por meio de argumentos filosóficos e probabilísticos sobre o processo de pesquisa. Citando a análise bayesiana, um método estatístico para inferir a probabilidade de uma explicação se adequar a um conjunto de fatos, ele iguala a confirmação ao aumento da probabilidade de uma teoria ser verdadeira ou viável.
Vamos aos argumentos filosóficos.
Espinosa, em seus Pensamentos Metafísicos, diz que “a certeza não está nas coisas.”
“As propriedades da verdade ou da ideia verdadeira são:
1º – é clara e distinta;
2º – suprime toda dúvida, isto é, é certa.
Os que procuram a certeza nas próprias coisas enganam-se, do mesmo modo que quando aí procuram a verdade, ou quando dizem que ‘uma coisa é incerta’, ou quando falam numa ‘coisa duvidosa’, pois fazem como na retórica, onde se toma o objeto pela ideia, a menos, talvez, que entendam por incerteza a contingência, ou a coisa que faz nascer em nós a incerteza ou a dúvida.”
Pronto, para a ciência basta encontrar teorias límpidas e específicas e, que sejam inequívocas. Não sei se melhorou.
Ainda Espinosa, citado por Gilles Deleuze: “… existe ideia abstrata quando, excedido o nosso poder de sermos afetados, contentamo-nos em imaginar em vez de compreender …”