Paulo Guedes disse, há dois dias, que a agenda liberal encolheu em razão de circunstâncias políticas e considerou que o grau de adesão do presidente à agenda econômica caiu de 99% para 65%. É uma surpresa isso. Os 65%, claro.
Paulo Guedes continua vivendo o mito da caverna. Acredita nas sombras.
O mercado, em especial o Financeiro, prefere acreditar, ainda, que o ministro poderá refrear o ímpeto populista do governo. Diariamente faz suas apostas.
Gustavo Franco, no seu mais recente livro, “Lições Amargas”, lembra o caso de Hjalmar Schacht, o incensado presidente do Banco Central alemão que, em 1923, havia conseguido estabilizar a moeda.
“Schacht se tornou uma espécie de troféu para os nazistas, um solitário elo com a civilização, um adorno importantíssimo para um regime já percebido como tosco ou pior. Uma situação complexa para ele:
‘A única maneira dele sobreviver à ditadura de Hitler era dar provas constantes de que ele era um dos poucos mestres nas artes da economia e uma roldana essencial na engrenagem dos planos ambiciosos de Hitler.'” (Gustavo Franco)
Terminou brigando com os nazistas, mas não escapou de ser julgado em Nuremberg.
O todo poderoso ministro acreditava que poderia “manobrar” o chefe: “Você pode controlá-lo melhor retirando-se, vivendo como um cidadão privado e deixando-lhe todo o poder? Ou não será bem mais inteligente envolver-se e tentar controlá-lo? Quer dizer, ver até onde consegue influenciá-lo”, imaginava.
Era um pacto fáustico; Mefistófeles surge a qualquer momento.
Balaio Caótico 