
“Eduardo Loyo disse ver pressão altista sobre os juros internacionais, dado o estímulo fiscal sem precedentes nas economias desenvolvidas.
Em relação ao Brasil, Loyo considerou que, diante do plano de normalização parcial da política monetária, a transparência adotada pelo BC em suas comunicações com o mercado leva investidores a interpretar as mensagens da autarquia como um compromisso.
Porém, ponderou, é natural que o mercado não tenha perfeita noção do que está sendo dito quando o BC muda a sua comunicação.
A transparência, pontuou Loyo, não depende apenas do que o BC diz, mas de como o receptor, no caso o mercado, recebe mensagem.
‘Transparência na comunicação do BC não depende apenas do que o BC diz, mas de como o seu código é compartilhado com receptor’, assinalou Loyo.”
Este texto foi extraído do Broadcast de hoje.
O mercado, como qualquer um de nós, às vezes escuta não o que foi dito, mas o que quer escutar. Ouvir não é escutar; o primeiro diz respeito ao sentido, o segundo, à percepção, o julgamento com base nas informações das sensações.
No meio do caminho há as expectativas e os desejos.
Esse é um dos principais dilemas da comunicação – fazer-se ouvir é fácil; fazer-se entender não depende só do emissor. Às vezes, o texto que vale é o “subentendido”, ou imaginado.
Por isso, a força das versões, das interpretações, das “leituras”: até os deuses devem sua existência à crença dos homens.
Voltamos à semiótica.
“Se concebe o texto no sentido amplo como qualquer conjunto coerente de signos”, dizia Mikhail Bakhtin.
Agora, imagine quando os signos não compõem um conjunto coerente! O BC fala uma coisa e outros agentes “falam” outras, distintas. Que transparência pode haver se o próprio BC precisa traduzir os sinais que vêem da economia real?
Muito depende do simbólico e da narrativa, como lembrava Oliver Sacks: “Uma criança acompanha a Bíblia antes de entender Euclides. Não por ser a Bíblia mais simples (pode-se dizer o inverso), mas por ser vazada num modo simbólico e narrativo.”
Uma narrativa empolga as crianças que carregamos – vejam a “descoberta” das storytellings por aí.
O “texto” é um sistema complexo, com seus suportes biológicos e sociais. Complexo porque acontece no “universo da cultura, transpondo as fronteiras do meramente pragmático da organização social, e criando limites maiores e mais etéreos para a existência, abrindo espaço para o imaginário, para a fantasia, para as lendas e histórias, para a ficção.” (Ivan Bystrina)
Bakhtin ressalta que o enunciado não é um ato discursivo individual; ele é impregnado de “sociabilidade interna” na comunicação.
O papel dos outros, para quem se constrói o enunciado, é excepcionalmente grande. Eles não são ouvintes passivos, mas participantes ativos da comunicação discursiva, queira ou não o emissor. “É como se todo o enunciado se construísse ao encontro da ativa compreensão responsiva”.
Num pronunciamento “oficial”, a resposta vem na forma de reações e análises dos especialistas.