
“Todos os homens filosofam; e, como diz Aristóteles, devemos fazê-lo nem que seja para provar a futilidade da filosofia. Os que negligenciam a filosofia têm teorias metafísicas tanto quanto os outros – só que têm teorias grosseiras, falsas, e verborrágicas.” (Charles Peirce)
Na argumentação de Peirce, a lógica é apenas um outro nome para semiótica, a doutrina dos signos.
Observamos os caracteres dos signos por um processo de abstração, falível, daí ser necessário um processo de raciocínio matemático para concluirmos sobre o que seria verdadeiro, em nosso entendimento.
A “leitura” dos signos é, como dito, uma abstração, mas apoiada na observação e suportada pela imaginação para que haja o uso dos vários tipos de raciocínios.
Há quatro espécies de raciocínio:
- Dedução: examina o estado de coisas, elabora um diagrama e percebe nas suas partes as relações que subsistem – supostamente verdadeiras;
- Indução: quando adota-se uma conclusão como aproximada, por resultar de um método de inferência, que no final deve conduzir à verdade;
- Retrodução: a adoção provisória de uma hipótese em virtude de serem passíveis de verificação experimental, o que acaba por revelar seu acordo ou desacordo com os fatos;
- Analogia: é a inferência, num conjunto não muito extenso de objetos, que, se estes estão em concordância sob vários aspectos, podem muito provavelmente estar em concordância também sob um outro aspecto. A Analogia combina as características da Indução e da Retrodução.
“Eu sou, pelo que sei, um pioneiro, ou antes um explorador, na atividade de esclarecer e iniciar aquilo que chamo ‘semiótica‘, isto é, a doutrina da natureza essencial e das variedades fundamentais de cada ‘semiose‘ possível.
Por semiose entendo uma ação, uma influência que seja ou coenvolva uma cooperação de três sujeitos, como por exemplo, um signo, o seu objeto e o seu interpretante, tal influência tri-relativa não sendo jamais passível de resolução em uma ação entre duplas.” (Peirce)
Umberto Eco lembra que os ‘sujeitos’ da semiose não são necessariamente sujeitos humanos; são três ‘abstratas entidades semióticas’, que podem ser aplicadas a fenômenos sem emitente humano, embora tenham um destinatário humano.
Considerar a semiótica simplesmente como uma teoria dos atos comunicativos a reduz, pois ignora os sintomas ou comportamentos como signos, por exemplo. Um destinatário pode inferir algo a respeito da situação de um emitente que não tem consciência de estar emitindo mensagens para alguém.
“… propomos definir como signo tudo quanto, à base de uma convenção social previamente aceita, possa ser entendido como ALGO QUE ESTÁ NO LUGAR DE OUTRA COISA.” (Umberto Eco)
Ferdinand de Saussure (1857-1913) tinha uma visão mais restritiva; via a semiótica como “uma ciência que estuda a vida dos signos no quadro da vida social”.
“A língua é um sistema de signos que exprimem ideias e, por isso, é confrontável com a escrita, o alfabeto dos surdos-mudos, os ritos simbólicos, as fórmulas de cortesia, os sinais militares etc. Ela é, simplesmente, o mais importante de tais sistemas.”
Ele a chamava de semiologia, o estudo dos signos.
Para registro, a semiótica não é coisa nova; desde a Antiguidade, o diagnóstico médico é descrito como a “parte semiótica” da medicina.
Aliás, foi Cláudio Galeno (129-199 d.C.) quem estabeleceu a semiótica como a análise dos sintomas, como uma parte dos estudos médicos.
No século XVII, John Locke (1632-1704) definia a semiótica como um dos três ramos dos estudos do conhecimento humano, ao lado da física e da ética. Para ele (assim como para Peirce), semiótica era um sinônimo da lógica – e, ela tratava principalmente das palavras por serem os signos mais relevantes.