
“Os paulistas transportaram para o seio das florestas as epopeias que os portugueses tinham cinzelado nos seios dos mares.” (Capistrano de Abreu)
Essas “bandeiras” eram movidas pela ganância, violência e fé. A gana por riquezas e a captura de índios para o trabalho escravo eram os motivos, os outros eram os meios.
As escolas ensinam sobre o Tratado de Tordesilhas, a partilha dos novos mundos entre Portugal e Espanha (Castela).
Fazia dois anos que Colombo havia descoberto as Américas. Já fizera a sua segunda viagem e, mesmo após sua quarta e última acreditava que havia chegado às Índias. Assegurava, também, que o Orinoco era um dos rios do paraíso terrestre.
Por via das dúvidas, os reis ibéricos resolveram fatiar o Novo Mundo. Este é teu, esse é meu. Tudo pacífico com relação ao Mar Tenebroso (o Atlântico só seria ‘batizado’ de fato em 1569 quando o geógrafo Mercator resgatou o apelido que lhe dera Heródoto).
Bom, os bandeirantes já fuçavam o interior desde meados do século XVI. No século XVIII já havia uma certa configuração dos “domínios” portugueses. Os espanhóis estavam entretidos com a prata, principalmente em Potosí, e os Andes constituíam uma barreira natural.
Em 1736 começou-se a discutir as fronteiras – legalizar os posseiros. Era necessário anular Tordesilhas e procurar outras bases para um novo tratado que preservasse as novas riquezas do oeste e estabelecesse fronteiras seguras no sul.
Entra em cena Alexandre de Gusmão, o diplomata que, ao final, ampliou em 2/3 o território nacional. Mas, é desconhecido da maioria.
Seu irmão, Bartolomeu de Gusmão, é mais conhecido, afinal inventou (entre outras coisas) o o primeiro aeróstato (aeronave mais leve que o ar – tipo balão ou dirigível) operacional, em 1709, aos 24 anos.
Ambos nasceram em Santos, filhos de um cirurgião e foram bem sucedidos em Portugal: Alexandre se tornaria o mais importante diplomata no reinado de Dom João V.

Foi Alexandre quem conduziu as negociações, defendendo o critério da legalização da área ocupada (uti possidetis); essa história de longitudes era muito imprecisa. As fronteiras deveriam ser rios e montanhas conhecidas, as “fronteiras naturais”.
Foram negociadas algumas compensações:
- as Filipinas haviam sido ocupadas pelos espanhóis – ficariam com eles, mesmo que, pelo Tratado de Saragoça, de 1529, deveriam ser de Portugal.
- a ocupação da Colônia de Sacramento, no Uruguai, pertinho de Buenos Aires, não era tolerada pela Espanha e era de cara manutenção por Portugal, ficou com a Espanha.
- em troca, a região conhecida como Sete Povos das Missões (a metade oeste do Rio Grande do Sul) – ótima para pecuária e agricultura – ficaria com Portugal. A expulsão dos índios e jesuítas espanhóis é outra história, trágica.
Tudo negociado, pacificamente, assinou-se o Tratado de Madri, em 1750, que transformou o que viria a ser o Brasil no quinto maior território do mundo.

Após a morte de Alexandre (em 1753), o Tratado de Madri foi questionado.
Em 1761, foi anulado pelo Tratado de El Pardo e, em 1777, pelo Tratado de Santo Ildefonso. Neste, Portugal perdeu os Sete Povos.
Só em 1801, com nova guerra peninsular, os luso-brasileiros ocuparam os Sete Povos e restabeleceu-se o definido no Tratado de Madri.
Alexandre de Gusmão merece ser lembrado.