
Carlito Carvalhosa era um artista múltiplo: pintor, gravador, escultor; um dos principais artistas da arte contemporânea do país.
Há anos lutava contra um câncer no intestino. Foi vencido.
Numa das suas fases produzia esculturas de aparência orgânica e maleável, com diversos materiais; noutra, pinturas gigantes … um percurso artístico não linear, imprevisível, mas com uma unidade conceitual – uma espécie de atrator.
“… algumas constantes podem ser reconhecidas nos trabalhos de Carlito: basicamente, suas obras são superfícies que se desfazem no volume, ou volumes que somem na superfície.
São expressão da impossibilidade de sentir uma superfície sem espessura ou, inversamente, de adivinhar um volume, sem ambiguidades, pela superfície.” (Lorenzo Mammi)
A dificuldade de se representar ou reconhecer o real; a necessidade de identificarmos, mesmo que precariamente, a mutante realidade. A vida como uma charada.
“- O que é, o que é? Tem escama e não é peixe. Tem coroa e não é rei”, lembrava Rodrigo Naves, sua capacidade remanescente da infância, de se trocar o lugar e a função dos objetos.





Lembro vividamente de uma intervenção feita na Pinacoteca, no Projeto Octógono – “A soma dos dias” – que contava com apresentações de Philip Glass: minimalismo e transparência reduzida. Isso foi na quaresma de 2010.
“… a quaresma, na tradição cristã, corresponde ao período preparatório para a celebração do renascimento do Cristo nos festejos da Páscoa. (…)
… entre outros ritos, cobrem-se os santos e com isso interrompe-se a mediação que eles representam, para estimular a concentração do crente sobre seus próprios pensamentos e ações …” (Ivo Mesquita)