
James C. Scott, em seu livro Seeing like a State, apresenta o conceito de “Legibilidade“:
“Centenas de anos atrás, as florestas serviam para muitas coisas – eram locais onde as pessoas colhiam madeira, mas também onde os habitantes locais procuravam alimentos e caçavam, bem como um ecossistema para animais e plantas.
De acordo com a lógica das práticas florestais científicas, as florestas seriam muito mais valiosas se apenas produzissem madeira. Para conseguir isso, elas tinham que ser legíveis.
Assim, os agricultores modernos decidiram derrubar a floresta e plantar fileiras perfeitamente retas de uma espécie particular de árvores de crescimento rápido. Presumiu-se que isso seria mais eficiente. O plantio de apenas uma espécie significava que a qualidade da madeira seria previsível. Além disso, as linhas retas tornariam fácil saber exatamente quanta madeira havia ali e a produção de madeira poderia ser facilmente monitorada e controlada.
Para a primeira geração de árvores, os agricultores alcançaram rendimentos mais elevados, e houve muita celebração e autocomplacência. Mas, depois de cerca de um século, os problemas do colapso do ecossistema começaram a se revelar. Ao impor uma lógica de ordem e controle, a silvicultura científica destruiu a complexa, invisível e incognoscível rede de relações entre plantas, animais e pessoas, que são necessárias para uma floresta prosperar.
Depois de um século, ficou claro que as relações entre plantas e animais estavam tão distorcidas que as pragas estavam destruindo as plantações. O equilíbrio de nutrientes do solo foi interrompido. E depois da primeira geração de árvores, a floresta não estava mais prosperando.”
A legibilidade citada por James Scott descreve a tendência muito humana de simplificar sistemas complexos para exercer controle sobre eles.
Venkatesh Rao oferece uma receita para legibilidade:
- Olhe para uma realidade complexa e confusa;
- Falhe em entender todas as sutilezas de como a complexa realidade funciona;
- Atribua essa falha à irracionalidade do que você está vendo, e não às suas próprias limitações;
- Crie uma visão idealizada de como essa realidade deve ser;
- Argumente que a relativa simplicidade e ordem da nova visão representa racionalidade;
- Use o poder para impor essa visão, demolindo a velha realidade, se necessário.
“O grande erro nesse padrão de falha é projetar sua falta de compreensão subjetiva no objeto que você está olhando, como ‘irracionalidade’. Cometemos esse erro porque somos tentados por um desejo de legibilidade.” (Venkatesh Rao)
Segundo John Burgoyne, “a medição não deve ser usada para controle de cima para baixo, mas sim para aprender sobre problemas complexos e as pessoas que os enfrentam, para que possamos adaptar e melhorar nossa abordagem”.
Precisamos de abordagens de medição e avaliação que abracem e trabalhem com a complexidade, em vez de ofuscá-la por meio de tentativas de tornar legíveis os sistemas complexos.

Fonte principal: texto de Thea Snow, do Centre for Public Impact, do BCG.