
Islã significa, literalmente, submissão (a Alá).
À medida que 2022 se aproxima, quando haverá novas eleições presidenciais na França, mais atual fica o livro de Michel Houellebecq, “Submissão“.
O livro trata da vida insossa de François, um professor universitário de literatura, alheio à política (“sentia-me tão politizado quanto uma toalha de rosto”, diz), vida sentimental sem sentimentos … tudo parecendo ocorrer longe dali. O que esperava da vida era apenas um pouco de uniformidade.
“Os estudos universitários no campo das letras não levam, como se sabe, praticamente a nada, a não ser, para os estudantes mais dotados, a uma carreira de ensino universitário no campo das letras – em suma, temos a situação um tanto cômica de um sistema sem outro objetivo além de sua própria reprodução, acompanhado por uma taxa de não aproveitamento superior a noventa e cinco por cento”, reflete François.
Em 2022, para fugir ao tradicional embate direita e esquerda, elege-se um terceiro, o candidato da Fraternidade Muçulmana. Historicamente, os mulçumanos votam nos socialistas; desta vez, os socialistas – dispersos – apoiariam os mulçumanos.
A direita, representada pela teimosa Marine Le Pen, da Frente Nacional, significa repressão aos imigrantes e, desmoronamento dos valores dos socialistas, principalmente as multifragmentadas pautas identitárias.
Pesquisas recentes mostram uma grande chance de eleição de Le Pen. O que as esquerdas farão? Surgirá um tertius mulçumano?
O temor de um governo muçulmano na França antecede o livro de Houellebecq; vem da teoria da “grande substituição”, descrita por Renaud Camus: em função da imigração e da grande fecundidade, “minorias visíveis” (árabes e negros) se tornarão maioria na França, substituindo a população “francesa de origem”.
Atualmente, entretanto, os muçulmanos não chegam a 10% da população da França. Mas, metem medo.
Ironicamente, no dia do lançamento do livro, 7 de janeiro de 2015, dois radicais islâmicos atacaram o jornal Charlie Hebdo, o que resultou em 12 mortos.
A França, assim como outros países europeus, esquecem seu passado colonialista. A Argélia, por exemplo, foi ocupada pelos franceses de 1830 a 1962.
A Argélia lutou de 1954 a 1962 para conquistar sua independência e, embora tenha havido uma vitória militar francesa, os argelinos venceram politicamente.
A história, às vezes, parece uma hipoteca – a garantia é o próprio imóvel.