Que venha logo a Era do Espírito Santo

(Ilustração concebida e desenhada por Gioacchino dei Fiori)

Gioacchino dei Fiori, Joaquim de Fiori, viveu entre 1135 e 1202. Foi um abade e filósofo místico. Defendia o milenarismo.

Para ele, já havia transcorrido a Era do Pai e a Era do Filho. Correspondiam ao mundo antigo e ao medieval – em curso. A cristandade deveria se preparar para uma nova Era, a do Espírito Santo.

O pensamento profético complexo e original do abade é ilustrado com base na teologia trinitária da história: de Adão a Jesus Cristo teria ocorrido o Tempo do Antigo Testamento, que coincidia com a Era do Pai. Desde a primeira vinda de Jesus Cristo até o fim da história, ocorria o Tempo do Novo Testamento, que é composto da Era do Filho e da Era final do Espírito Santo.

Na ilustração acima, a figura de Cristo domina tanto no centro da árvore da história, o lugar do primeiro advento (Encarnação-Morte-Ressurreição), no qual opera a Redenção, e acima, no cume dela, o lugar do segundo advento (Ressurreição dos Mortos e Juízo Final) na majestade do juízo e na glória da eternidade.

A Primeira Idade, correspondeu ao governo de Deus Pai, e é representada pelo poder absoluto, inspirador do temor sagrado que perpassa o Velho Testamento. 

A Segunda Idade inicia-se com a revelação do Novo Testamento, trazida pelo Deus Filho: a sabedoria divina que tinha permanecido escondida da humanidade se revela.

A Terceira Idade, será o advento do Espírito Santo. Será um tempo onde o amor universal e a igualdade entre todos os cristãos, serão alcançados. A mensagem dos Evangelhos será finalmente realizada, não só na sua letra mas no seu espírito; será finalmente compreendida e aceita pela humanidade (cristãos).

Toda desigualdade e injustiça serão eliminadas, os bens divididos, os prisioneiros libertados e as pessoas, inspiradas pelo Espírito Santo, viverão para sempre em fraternidade e harmonia.

Nessa Era, a idade da graça redentora, não haverá necessidade de leis ou instituições disciplinadoras da fé, já que esta será universal e baseada diretamente na inspiração divina, pelo que poderão ser dispensadas as estruturas institucionais do poder temporal e da Igreja.

Teremos o pleno Anarquismo – amoroso, claro. Mas, antes surgirá o Anticristo e, finalmente, ocorrerá um cataclismo; não será de graça. A Graça vem depois.

Joaquim, ao morrer, foi tido como santo, embora nunca tenha sido sequer beatificado. Até Dante Alighieri o colocou no Paraíso, na sua Divina Comédia. Lembrando, na época, os bispos podiam também canonizar (santificar). A partir de 1234, só os papas.

As ideias (profecias) de Joaquim não morreriam com ele. Seguidores (Joaquimitas) surgiram e consideravam que o Novo e o Velho Testamento tinham deixado de constituir a única fonte de revelação. Os livros de Joaquim de Fiore seriam a Eterna Revelação, que transcendia e substituía a Revelação contida nos Evangelhos.

Muitos associam a figura de Francisco de Assis (1182-1226) e a missão de sua ordem ao cumprimento das profecias joaquimitas.

Claro que tudo foi considerado herético – após a morte de Joaquim – e multidões foram perseguidas e muitos executados.

Remanescentes da nova seita foram pedir guarida aos reis de Portugal (Dom Dinis e Dona Isabel), que eram conversos do Espírito Santo. Depois, por pressão do papa, foram para as ilhas portuguesas no Atlântico e, finalmente, ao Brasil, já na época da Inquisição.

Daí termos forte a tradição das celebrações do Divino Espírito Santo.

Publicado por Dorgival Soares

Administrador de empresas, especializado em reestruturação e recuperação de negócios. Minha formação é centrada em finanças, mas atuo com foco nas pessoas.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

%d blogueiros gostam disto: