
German Lorca faria 99 anos no próximo 28 de maio. Ontem, antecipou-se.
EU E VOCÊ
“Leve-as! Não quero ver essa fotografias
que falam de nós dois, que contam nossa história.
Minhas saudades são mais lindas na memória.
Invocando-as assim você as afastaria.
Esconda esses cartões onde tudo fenece,
onde o nosso passado esplêndido aparece
sem sua cor, nem sua voz, nem seu perfume …
ao passo que um detalhe inexpressivo assume
uma importância enorme, irritante e cruel.
Minha memória é mais fiel …” (Paul Géraldy – tradução de Guilherme de Almeida)

Lorca gostava dessa poesia, mas a contestava:
“E eu escrevo, deixe-as, sempre quero ver essas fotografias que contam a nossa história, nosso presente, nosso passado, nossos amigos, e pessoas que habitam nosso mundo, porque elas assumem uma importância fiel na minha memória.
O detalhe de uma criança, um homem, uma mulher, um casal, uma paisagem na cidade, no campo, na praia, uma briga, uma revolta, um barco, um rio, um animal, uma janela, uma construção, um trem, um objeto, um nu, enfim, tudo que nos cerca e nos acompanha pela vida toda.”
Este era o Lorca, o detalhista e panorâmico, o ligado nas expressões da vida e nas ‘naturezas mortas’, um contador que contabilizava memórias, o naturalista e desenvolvedor de imagens ultrageométricas … o que registrava a história através das transformações culturais, sociais, urbanas e, que fez, ele próprio, história.

Era o último integrante do Foto Cine Clube Bandeirante, grupo de fotógrafos que atualizou a linguagem visual no país, no qual ingressara em 1949.

Em 1952 fechou seu escritório de contabilidade e passou a viver da sua paixão, a fotografia. Jogou fora todo o treinamento em Contabilidade e abraçou uma nova profissão, como autodidata. Ao contrário dos colegas no Clube, que viam a fotografia como um agradável lazer, Lorca a encarou como geradora de seu sustento.
Faça uma homenagem a este curador de experiências: vejam suas fotos.




