
Marina Colasanti faz de tudo; vive!
Em 1980 escreveu um livro que então me interessou: “A Nova Mulher”. A mulher que o tenha lido já deve ter seus sessenta, setenta anos. Imagino que o livro a tenha ajudado. Mas, talvez tenha sido mais útil para os homens que o leram.
Entre os vários assuntos que aborda, transcreverei um trecho sobre comunicação, base para o diálogo.
“Quando falo com outra pessoa, meu cérebro é a fonte de informação, o do outro é o destinatário; meu sistema vocal é o transmissor, e o ouvido do outro, o receptor.
Mas, como veremos, no momento em que inserimos na relação dois seres humanos, cada um num extremo da cadeia, a própria relação se complica.” (Umberto Eco)
“Você quer dizer uma coisa ao outro, esta coisa não é simples, diz respeito a sentimentos seus bastante complexos, você pensa bem na coisa antes de dizê-la, procura as palavras. E começa a falar.
As palavras, você percebe logo, não são tão completas a ponto de expressarem exatamente aquilo que você sente.
Você mesma percebe uma distância, uma espécie de vão entre o que quer expressar e o que realmente acaba dizendo.
Então você tenta repetir com outras palavras, faz interrupções, volta atrás, recomeça.
A esta altura, o pensamento primeiro já se complicou terrivelmente, este é o lado emissor.
Do outro lado, o receptor recebe. Ele precisa converter o seu sinal – as palavras – na mensagem – aquilo que você quer dizer -, mas nessa conversão entram a sua própria sensibilidade, o seu entendimento, a sua maneira estritamente pessoa de perceber as coisas.
Então, ele forçosamente percebe um pouco diferente do que você queria. E vai tentar responder, repetindo todo o mecanismo que você já acionou, e com idêntico reforço.
Entre aquilo que você sentia, aquilo que você disse, aquilo que ele entendeu e a demonstração que deu de ter entendido, vários vãos foram se abrindo sucessivamente.
O primeiro elemento, o seu sentimento, parece distante e distorcido. Você tem a impressão de não ter sido entendida. E ainda não entraram os ruídos.
Os ruídos, no caso, são as interferências, que podem ser de toda ordem.
Interferência externa é, por exemplo, alguém que se intromete na conversa.
Interferência interna é um sentimento de um dos dois – carência, depressão, momento de agressividade – que distorce a realidade.
Há também a interferência da própria situação – quando há uma briga por trás de tudo. E assim por diante.
As interferências sempre pioram a comunicação, porque levam à complicação do diálogo. E nem sempre podem ser eliminadas.
Não se aflija, portanto, com a sensação de não estar sendo entendida. Ela é comum a todo mundo. E é comum, certamente, ao outro que, junto com você, está tentando realizar o milagre da comunicação.”
As palavras são insuficientes. Por isso falamos também com o gestual e com os “sinais” cotidianos.
A sinalização é uma dimensão oculta da maneira como nos comunicamos. Os profissionais de marketing sabem disso. Redes sociais vivem disso.
Mesmo que finjamos ignorar os sinais que os outros emitem, eles são percebidos.
Estamos sempre enviando sinais aos outros para transmitir que somos inteligentes, bem-sucedidos, atraentes, saudáveis, pessoas bem ajustadas e de gosto impecável. Sinalizamos para nossos chefes, colegas de trabalho, parceiros, amigos, família, estranhos na rua – quase todos.
Esses sinais são considerados numa tentativa de diálogo. É a ‘fachada’ do outro.
Portanto, o diálogo requer maturidade. Maturidade mental.
“A maturidade é necessária, basicamente, para não se querer ter razão a qualquer custo. Nada prejudica tanto uma relação com esta disputa infantil pela razão”, diz Marina.