Um pouco das (prováveis) memórias de Jean Giraudoux, do seu livro “Duas Existências”, com sua fantasia poética:
“Junho de 1888.
Clotilde Marsaudon decidiu me enfiar pelo nariz um petit pois (ervilha). O que vai me livrar de todas as doenças, impedirá meu cabelo de encrespar-se, e ela me dará um pedaço de chocolate.
Ela tem cinco anos, eu quatro. Obedeço.
Vamos escolher o petit pois no próprio jardim. Precisamos abrir pelo menos vinte favas.
Por mim preferia um pequeno, macio e bem redondo. Ela quer um grande, duro e com seu cabinho. Sem isso o petit pois não se fixa no interior da cabeça e todo o trabalho é inútil.
A operação se processa na oficina do nosso vizinho marceneiro, debaixo da bancada.
Não tenho por que temer, ela já fez isso cem vezes: o petit pois sobe pelo nariz, passa por trás de cada olho e circula pelo corpo.
Não, ela não vai me dar o chocolate antes.
Ela escova bem o petit pois com uma escova da oficina e lhe passa um pouquinho de verniz, não precisa ele ficar sujo, esfrega-o nas mãos e o enfia pela narina direita até onde seu dedo alcança. Quando eu grito por socorro, é tarde demais. Levam-me até o Dr. Vettrelay, o médico.
Proibição de brincar com Clotilde esta semana. Que pena.
Ela ficou de me trazer duas lagartas domesticadas que tem em casa, que dançam e que cantam. Chateio todo mundo perguntando como uma lagarta se transforma em borboleta e quanto tempo fica sendo lagarta.”