
Jesus contou esta parábola: “Dois homens subiram ao templo para orar.
Um era fariseu, o outro publicano.
O fariseu, de pé, orava assim em seu íntimo: ‘Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este publicano. Jejuo duas vezes por semana e pago o dízimo de toda a minha renda.’
O publicano, porém, ficou à distância e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu; mas batia no peito, dizendo: ‘Meu Deus, tem compaixão de mim, que sou pecador!’
Eu vos digo: este último voltou para casa justificado, mas o outro não.
Pois quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado“. (Lucas 18, 9-14)
Não sou adepto de nenhuma religião; temos o que aprender em todas – por isso sou tolerante, não as discrimino, ao contrário. Também não sou ateu: creio em processos que poderiam ser ditos como ‘divinos’.
O que acho intolerável é a tentativa de se elevar uma fé acima das demais – são vias, caminhos para o sublime – ou de se utilizar delas para proveito próprio, como um escárnio aos crentes.
Por isso, mergulho na Bíblia, Bhagavad-Gita, Talmude … Candomblé, Espiritismo … Budismo, Teosofia, Gnosticismo … Ciência …
Com relação aos fariseus atuais, parte do texto seria escrito sem uma vírgula: “porque não sou como os outros ladrões, desonestos, adúlteros …”
Pronto, já dei minha alfinetada. Mas, quero falar de minha admiração por Francisco, o papa: “A mensagem de Jesus é a misericórdia. Para mim, digo com humildade, é a mensagem mais forte do Senhor”, disse na sua segunda homilia após ser papa.
Ele lembrava o caso da adúltera que seria apedrejada: “Eu também não te condeno. Vai, e de agora em diante não peques mais.” (João 8, 11)
Misericórdia não é piedade, beneficência, assistência, apenas: estas podem ser manifestações.
É benevolência, perdão e bondade, principalmente. Etimologicamente, é a junção de compaixão e coração, em latim: coração compadecido.
“O Senhor jamais se cansa de perdoar; jamais!
Somos nós que nos cansamos de Lhe pedir perdão.
Então, devemos pedir a graça de não nos cansarmos de pedir perdão, porque Ele jamais se cansa de perdoar”. (papa Francisco)
Esta é uma Igreja que não joga na cara das pessoas as suas fragilidades e feridas – não as temos? -, mas as cura com o remédio da misericórdia.
“Vivemos numa sociedade que nos leva, cada vez menos, a reconhecer e assumir nossas responsabilidades: na realidade, sempre são os outros que erram.
Os imorais são sempre os outros, a culpa é sempre de outra pessoa, nunca nossa.” (Andrea Tornielli)
Cultivamos uma atitude mais disposta a condenar do que a acolher. Sempre mais concentrada em julgar do que em inclinar-se com compaixão perante as misérias da humanidade.
Esse é um processo de desumanização: parte da segregação e caminha ao desdém, alheamento aos irmãos carentes de afeto e reconhecimento como humanos.
É necessário trazermos Cristo para dentro de nós, não necessariamente aos templos.
Também não devemos transferir tudo o que há de bom para o Paraíso, pois ele é uma promessa. Cultivemos o Paraíso onde estivermos.
Outra coisa: não temos “duas” ou mais pessoas em nós: somos uno, com a Origem. O resto é patologia.
“Com efeito, dos que em ti esperam, ninguém será envergonhado; envergonhados serão os que, sem causa, procedem traiçoeiramente.” (Salmos 25, 3)
