Não é por falta de inteligência

A definição de inteligência que acho satisfatória é a feita em 1994 por um grupo de cientistas:

uma capacidade mental bastante geral que, entre outras coisas, envolve a habilidade de raciocinar, planejar, resolver problemas, pensar de forma abstrata, compreender ideias complexas, aprender rápido e aprender com a experiência.

Não é uma mera aprendizagem literária, uma habilidade estritamente acadêmica ou um talento para sair-se bem em provas.

Ao contrário disso, o conceito refere-se a uma capacidade mais ampla e mais profunda de compreensão do mundo à sua volta – ‘pegar no ar’, ‘pegar’ o sentido das coisas ou ‘perceber’ uma coisa.

O que mais gosto na definição é “entre outras coisas”. Sim, porque vejo a inteligência como uma resposta emergente às situações.

Claro que cada um de nós tem diferentes capacidades de resposta a uma variedade de desafios. Isso é fruto da ação dos estímulos históricos sobre nossa herança genética. Portanto, estamos próximos de 8 bilhões de diferentes inteligências.

Diferente não significa maior ou menor, melhor ou pior; apenas distintas, únicas.

Na China do século VII já havia testes de “inteligência” nos ‘exames imperiais’ para seleção dos burocratas do governo. Eram, principalmente, testes de aptidão e preparação (formação, se quiser).

Inteligência Social (Thorndike); Linguística, Lógica, Motora, Espacial, Musical, Interpessoal e Intrapessoal (Gardner); ou Emocional (Goleman, entre outros) … são agrupamentos de expressões manifestas da inteligência. Ferramental analítico para o ganha-pão de psicólogos e extensões.

Além dos bilhões de inteligências existentes, correspondentes ao cabedal decisório que carregamos, há outro gigantesco volume, que chamo de Inteligência Virtual, aquela que usamos de terceiros e assumimos como própria. Esta tende a apagar aquelas, por ser mais ‘cômoda’.

E há, finalmente, a Inteligência Artificial (IA) que está se disseminando em múltiplos dispositivos e que objetiva simular a capacidade humana de raciocinar, perceber, tomar decisões, executar e resolver problemas.

Resolver problemas, inclusive os complexos, através do reconhecimento de padrões subjacentes.

Uma variante de ‘apofenia‘ (viés cognitivo de percepção de padrões ou conexões em dados aparentemente aleatórios, conforme definido pelo psicólogo Klaus Conrad, em 1959), aplicada à Ciência da Complexidade, como forma de se tirar conclusões de dados inconclusivos, fractais ou atratores estranhos. Epifanias, simbolicamente.

Está tudo muito longe, acho; embora a caminho via ‘aprendizado profundo‘ (Deep Learning) – uma evolução da ‘aprendizado de máquina‘ (Machine Learning).

Algumas ferramentas nas quais a IA se apoia são úteis, porém perigosas: ‘estatísticas‘, que podem mostrar que tudo está de certa forma relacionado; e a ‘análise exploratória’, suportada por big datas, que mesmo com seus requisitos atendidos de 5Vs (Volume, Variedade, Velocidade, Valor e Veracidade), podem encontrar um padrão no meio de uma exploração sem necessariamente encontrar a verdade.

Para Kai-Fu Lee, a IA “apenas” mudará a forma como trabalhamos.

Uma pergunta que ele escuta é: “os computadores vão se tornar tão inteligentes que poderão começar a mandar na gente?”

Ted Chiang não acredita nisso.

Ele lembra o ‘argumento ontológico‘ proposto por Santo Anselmo, no século XI: “Deus é, por definição, o maior ser que podemos imaginar; um Deus que não existe não é tão grande quanto um Deus que existe; logo, Deus deve existir.”

Mas, como diria Hume: algo precisa forçosamente existir só porque foi definido a priori?

Isto é assunto para livros.

Da mesma forma, o matemático John Good propôs, em 1965: “Que uma máquina ultrainteligente seja definida como uma máquina que pode superar de longe todas as atividades intelectuais de qualquer homem, por mais inteligente que seja”.

Seria uma máquina que poderia projetar máquinas ainda melhores.

Não parece factível, segundo Chiang.

Vejam aqui:

(https://www-newyorker-com.cdn.ampproject.org/c/s/www.newyorker.com/culture/annals-of-inquiry/why-computers-wont-make-themselves-smarter/amp)

Publicado por Dorgival Soares

Administrador de empresas, especializado em reestruturação e recuperação de negócios. Minha formação é centrada em finanças, mas atuo com foco nas pessoas.

Um comentário em “Não é por falta de inteligência

  1. Resumirei meu texto em poucas frases. Porque existe uns mais outros menos inteligentes? Existe estudos que a intelegigencia se desenvolve na infância ate adolescência. O que passa disso é acumulo de conhecimentos que sao armazenados em nosso cérebro. A inteligência na adolescência como uma terra nativa que nao necessita de aditivos para produzir bons ou maus frutos. Com o passar dos anos o esforço e por demais enorme para se avançar a inteligência. Somos os mais vididos dotados de tantos conhecimento que e pouco nosso cérebro como uma maquina para armazenar tanto conhecimento. Ai ele transborta. Inteligência com o passar dos anos se esgota para dar lugar ao conhecimento. Veja o caso dos “nerds” adolescentes dotados de uma capacidade extrema de criar aplicativos que revolucionou o mundo digital. Fato é que a criptografia foi criada por um jovem tidos como “nerds” e o Mark Zuckerberg comprou por bilhões para alimentar e proteger sia rede de wats
    Hoje sem demérito algum Marx Zuckerberg já alcançou o pico de inteligência inerente da adolecencia /juventude. E passou a comprar as grandes ideias. Não podemos ficar tristes. Reduzimos nossa inteligência pela idade mas ganhamos em conhecimento e experiência. A maioria dos jovens absovidos pelo mercado de trabalho.vai de 17 a 30 anos. Pela imensa capacidade de criatividade. Vai um consolo, nós mais vividos entramos no mercado de trabalho nos cargos de controle e liderança pois temos uma gama de experiência e equilíbrio. O que a juventude ainda não adquiriu. Adolescentes / jovens e os mais idosos formam o equilíbrio dessa pirâmide.

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